Eli Sharabi foi sequestrado no dia 7 de outubro de 2023 e libertado no dia 8 de fevereiro deste ano. Cerca de oito meses depois, o ex-refém israelita lançou um livro - 'Refém' - onde relata os 491 dias em que foi mantido em cativeiro. Este mês, foi também capa da revista 'Time'.
Sharabi foi mantido nas profundezas dos túneis em Gaza durante dias e meses a fio. Lá, pensou na família e nas saudades que sentia, assim como na vontade que tinha em regressar à sua casa no kibutz Be'eri.
"A 50 metros de profundidade, realmente entendemos o sentido da vida", disse o ex-refém durante uma entrevista feita pela estação televisiva norte-americana CBS News.
No início de setembro, juntamente com uma equipa de reportagem, Eli voltou ao kibutz: "Uau. Lembro-me de me tirarem daqui".
"Eu compreendo árabe. No meu último segundo em casa, disse às minhas filhas: 'eu volto'", contou, explicando que sabia que estava a ser sequestrado naquele dia.
Eli Sharabi regressou a casa depois de quase 500 dias em cativeiro, mas não encontrou a mulher e as filhas. Soube, após a sua libertação, que tinham sido mortas pelos Hamas.
No livro 'Refém' que agora lança, Sharabi conta como viveu, não só os primeiros momentos do ataque do Hamas, no dia 7 de outubro de 2023, como tudo o que se seguiu.
"Cinco terroristas entraram com armas. Estávamos de pijama. Eles vinham com uniformes, bataclavas e kalashnikovs. Nunca vou esquecer o medo nos olhos da minha filha", revelou durante a entrevista.
Depois de ser sequestrado, o ex-refém foi levado para uma casa e amarrado, onde esteve durante 52 dias - altura em que foi levado para os túneis.
Já naquele local, Sherabi esteve com outros reféns como, por exemplo, o israelo-americano Hersh Goldberg-Polin, que, mais tarde, foi assassinado.
Mantido em cativeiro, os seus sequestradores diziam a Eli Sherabi que a sua mulher e filhas estavam vivas e que eram vistas em protestos a pedir a sua liberdade e era essa informação que lhe dava a esperança que precisava para continuar a lutar e a sobreviver.
O ex-refém relatou ainda que foi espancado, assim como outros reféns. "Uma vez fraturaram-me as costelas e eu não consegui respirar em condições durantes dois ou três meses. Um amigo teve de me ajudar a manter-me de pé para ir à casa de banho".
E continuou: "Eles [Hamas] despiam-nos a cada duas semanas e revistavam-nos à procura de alguma coisa que pudéssemos usar para os atacar".
Eli Sharabi descreveu aqueles momentos como "humilhantes", contando que como estavam presos uns aos outros tinham, por exemplo, de ir à casa de banho juntos.
Disse que estavam "acorrentados nas pernas, 24 horas por dia, sete dias por semana". "Cada passo que dávamos não passava de sete centímetros. Tiraram as correntes uma semana antes da nossa libertação e as nossas pernas começaram a 'voar' para todos os lados. Não conseguíamos controlá-las porque não sabíamos andar".
Durante a entrevista, o ex-refém salientou também continuar preocupado com um amigo que deixou para trás, Alon Ohel, de 24 anos. Os dois estiveram juntos durante cerca de um ano e quando descobriu que iria ser libertado - mas o Alon não - foi um "momento complicado".
"Ele teve um ataque de pânico. Começou a chorar e a tremer. Não foi fácil", revelou.
Sharabi foi libertada no dia 8 de fevereiro. Enquanto foi mantido em cativeiro perdeu cerca de 30 quilogramas e, apesar de ter considerado a 'entrega' "assustadora", só queria voltar a ver a mulher e as duas filhas. Uma assistente social disse-lhe: "A sua mãe e irmã estão à espera" e Eli respondeu: "Tragam-me a Liane e as minhas filhas".
De recordar que a mulher e as filhas de Eli foram mortas no ataque de 7 de outubro de 2023.
Agora, livre, Sharabi tem como missão trazer todos os reféns vivos para casa, assim como os corpos daqueles que foram mortos, como é o caso do seu irmão Yossi. Salientou ainda que escolheu viver e que é "muito grato pela sua segunda oportunidade".
"Eu amo a vida. Amo a vida. Tenho orgulho de ser importante para outras pessoas. É uma sensação muito tocante, saber que se importam [...]. Não posso fazer nada para trazer a Liane, a Noyia, a Yahel e o Yossi de volta. Então, o melhor que posso fazer pela memória deles é ser otimista, forte e reconstruir a minha vida", disse.
Eli Sharabi é capa da revista 'Time'
No início deste mês, Eli Sharabi foi capa da revista norte-americana 'Time', escreveu tudo o que viveu desde o momento em que foi levado de casa até ao momento em que regressou.
Eli Sharabi foi libertado pelo Hamas em fevereiro deste ano, durante o período de tréguas entre o grupo islamita e Israel, que decorreu de 19 de janeiro a 1 de março.
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