Segundo o relatório, a que a agência Lusa teve acesso, os ferimentos incapacitantes representam um quarto do total das 167.376 pessoas feridas desde outubro de 2023. Mais de cinco mil sofreram amputações.
"Os dados confirmam análises anteriores da OMS", lê-se no documento.
Outros ferimentos graves são igualmente comuns: mais de 22 mil em braços e pernas, mais de dois mil na coluna vertebral, mais de 1.300 no cérebro e mais de 3.300 queimaduras graves, aumentando a necessidade de serviços especializados de cirurgia e reabilitação e com forte impacto nas famílias em Gaza.
O relatório destaca ainda a elevada prevalência de lesões complexas na face e nos olhos, sobretudo entre pacientes que aguardam evacuação médica, "muitas vezes conduzindo a desfiguração, incapacidade e estigmatização social".
A análise baseia-se em dados de 22 equipas médicas de emergência apoiadas pela OMS, do Ministério da Saúde de Gaza e de parceiros de saúde locais, dando um retrato mais completo das necessidades de reabilitação decorrentes de ferimentos graves.
"O sistema de saúde em Gaza está à beira do colapso. Apenas 14 dos 36 hospitais funcionam parcialmente e menos de um terço dos serviços de reabilitação existentes antes do conflito continuam ativos, vários deles em risco iminente de encerrar. Nenhum está totalmente funcional", alerta a OMS.
Para a organização, que apelou a um cessar-fogo imediato no conflito que opõe Israel ao Gamas, a guerra devastou também a força de trabalho na área da reabilitação.
"Gaza tinha cerca de 1.300 fisioterapeutas e 400 terapeutas ocupacionais, mas muitos foram deslocados e pelo menos 42 morreram até setembro de 2024. Hoje, mais um trabalhador de reabilitação terá sido morto e outro ferido, juntamente com dois outros profissionais de saúde, num mesmo ataque", adianta.
Para a OMS, existem apenas oito técnicos de próteses para fabricar e ajustar membros artificiais para um elevado número de amputações.
"A reabilitação é vital não apenas para a recuperação de ferimentos traumáticos, mas também para pessoas com doenças crónicas e incapacidades que não estão refletidas no relatório", afirmou Richard Peeperkorn, representante da OMS no território palestiniano ocupado.
Segundo Peeperkorn, o deslocamento forçado, a malnutrição, as doenças e a falta de produtos de apoio fazem com que as necessidades reais de reabilitação em Gaza sejam muito superiores.
O representante da OMS sublinhou ainda o impacto na saúde mental, com sobreviventes a enfrentarem trauma, perda e dificuldades de sobrevivência diária, num contexto de escassez de serviços de apoio psicossocial.
A OMS, as equipas médicas de emergência e outros parceiros de saúde permanecem no terreno, a tentar responder às necessidades urgentes, garantiu.
O relatório defende, contudo, que é necessário garantir a proteção dos cuidados de saúde e o acesso sem restrições a combustível e medicamentos, bem como a entrada de equipamentos médicos essenciais e dispositivos de apoio.
"O povo de Gaza merece paz, o direito à saúde e cuidados, e a possibilidade de recuperar", conclui o documento.
A ofensiva israelita em Gaza já matou mais de 66.100 palestinianos, incluindo 151 crianças vítimas de fome e desnutrição, segundo as autoridades controladas pelo Hamas.
Seguiu-se ao ataque do movimento islamita palestiniano Hamas em Israel de há dois anos, que causou 1.200 mortos e 251 reféns, de acordo com as autoridades israelitas.
Israel é acusado de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra, acusações que nega.
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