O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar enfatizou, num comunicado publicado nas redes sociais, que esta intervenção militar israelita representa "uma flagrante violação do direito internacional e uma ameaça à segurança marítima e à liberdade de navegação".
Doha sublinhou, por isso, "a necessidade de garantir a segurança de todos os participantes a bordo da flotilha" e apelou à sua libertação imediata.
Ao mesmo tempo, Doha pediu à comunidade internacional para "cumprir com as suas responsabilidades morais e legais, tomando medidas decisivas contra as contínuas violações do direito internacional humanitário por parte das autoridades de ocupação israelitas".
O Qatar lembrou ainda "a importância de garantir a entrega segura, desimpedida e sustentada de ajuda humanitária a todas as áreas da Faixa de Gaza", sobretudo numa altura em que se vive uma grave "ofensiva israelita contra o enclave e as suas restrições à entrega de ajuda à população, cercada desde 2007", quando o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) assumiu o controlo do território.
As forças israelitas intercetaram entre a noite de quarta-feira e a manhã de hoje a Flotilha Global Sumud, com cerca de 50 embarcações, que se dirigia à Faixa de Gaza para entregar ajuda humanitária, detendo os participantes, incluindo quatro cidadãos portugueses: a líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, a atriz Sofia Aparício e os ativistas Miguel Duarte e Diogo Chaves.
Também foram detidos 30 espanhóis, 22 italianos, 21 turcos, 12 malaios, 11 tunisinos, 11 brasileiros e 10 franceses, bem como cidadãos dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, México e Colômbia, entre muitos outros -- os organizadores denunciaram a falta de informação sobre o paradeiro de 443 participantes da missão humanitária.
O Qatar é, juntamente com o Egito e os Estados Unidos, um dos países mediadores de um potencial novo acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, embora o ataque israelita contra uma reunião da delegação negocial do Hamas em Doha, a 09 de setembro --- que fez seis mortos, incluindo um agente qatari ---, tenha prejudicado drasticamente as relações bilaterais.
Na passada segunda-feira, durante uma conversa telefónica realizada a partir da Casa Branca (presidência norte-americana), o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, apresentou um pedido de desculpas ao seu homólogo do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman, pelo ataque de 09 de setembro em Doha, e prometeu não repetir a iniciativa.
No dia seguinte, o Qatar afirmou ter recebido garantias de segurança por parte dos Estados Unidos.
A guerra em curso em Gaza foi desencadeada pelos ataques a Israel, liderados pelo grupo extremista palestiniano Hamas em 07 de outubro de 2023, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
A retaliação israelita contra a Faixa de Gaza já matou mais de 66.000 palestinianos --- incluindo 151 crianças por fome e desnutrição ---, de acordo com as autoridades de Gaza, cujos dados são considerados credíveis pela ONU.
A comunidade internacional tem criticado as ações do Exército israelita, especialmente em relação ao bloqueio da entrega de ajuda humanitária, que levou a ONU a declarar o norte de Gaza como uma zona de fome.
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