"Houve faltas muito importantes que foram cometidas por esta tripulação e que justificam, aliás, que o processo seja hoje judicializado", reagiu Emmanuel Macron, sem mais detalhes, à margem de uma cimeira europeia em Copenhaga.
Na sequência de um alerta da marinha francesa nacional, a justiça abriu uma investigação por "falta de justificação da nacionalidade do navio/pavilhão" e "recusa de obedecer", indicou o procurador de Brest, Stéphane Kellenberger.
Batizado "Pushpa" ou "Boracay", o navio de 244 metros de comprimento, com bandeira do Benim, está sob sanções europeias por pertencer à chamada "frota fantasma russa", utilizada por Moscovo para contornar as sanções ocidentais contra as vendas de petróleo.
O petroleiro, imobilizado ao largo das costas francesas, é suspeito de estar envolvido em recentes sobrevoos de misteriosos drones que perturbaram o tráfego aéreo dinamarquês.
Segundo o 'site' especializado The Maritime Executive, o navio pode ter servido como "plataforma de lançamento" ou como isco em relação aos drones, de acordo com a agência France-Presse (AFP).
Questionado sobre este ponto, Macron pediu prudência.
A Dinamarca acolhe hoje uma cimeira da União Europeia (UE) e na quinta-feira uma cimeira europeia alargada.
Os sobrevoos de drones colocaram a Dinamarca sob forte pressão, bem como a Europa, confrontada com tensões crescentes com a Rússia.
A origem dos drones permanece até agora desconhecida, mas as autoridades dinamarquesas não tardaram em incriminar a Rússia.
Moscovo já tinha sido acusada de estar por detrás da incursão de cerca de duas dezenas de drones no espaço aéreo polaco no início de setembro e de três aviões de combate no espaço aéreo estónio alguns dias mais tarde.
A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, apelou para uma "resposta muito forte" da Europa face à "guerra híbrida" conduzida pela Rússia, na abertura da cimeira da UE em Copenhaga.
"Qualquer pessoa que viole o espaço aéreo europeu é suscetível de sofrer represálias", acrescentou o Presidente francês.
Macron insistiu na necessidade de a UE continuar equipar-se militarmente, incluindo com "sistemas de pré-alerta muito eficazes" contra os drones.
"Estamos numa confrontação com a Rússia que, há vários anos, é um ator muito agressivo (..), que multiplica os ataques cibernéticos, que lançou uma guerra de agressão na Ucrânia, que utiliza a ameaça nuclear e que hoje, vê-se bem, provoca em espaços aéreos", disse Macron, citado pela AFP.
O petroleiro zarpou do porto de Primorsk, perto de São Petersburgo (Rússia), a 20 de setembro, e deveria chegar a Vadinar, no noroeste da Índia, um mês mais tarde.
Mas estranhamente fez um desvio para lançar âncora há vários dias na proximidade do parque eólico de Saint-Nazaire (noroeste), segundo o 'site' Marine Traffic.
Construído em 2007, o petroleiro suspeito mudou de nome e de bandeira inúmeras vezes, tendo sido alternadamente registado no Gabão, nas Ilhas Marshall ou na Mongólia, segundo o site www.opensanctions.org.
Além da União Europeia, encontra-se sob sanções do Canadá, da Suíça, da Nova Zelândia e do Reino Unido, segundo a mesma fonte.
Macron considerou que a frota fantasma russa, de entre "600 e 1.000 navios", segundo disse, representa "dezenas de milhares de milhões de euros para o orçamento da Rússia".
"Financia, segundo as nossas avaliações coletivas, 40% do esforço de guerra russo", acrescentou.
Leia Também: Alemanha quer reunir militares e polícia no combate a ameaça de drones