Numa reunião de alto nível para assinalar o Dia Internacional para a Eliminação Total das Armas Nucleares, Guterres fez-se representar pelo seu chefe de gabinete, Courtenay Rattray, que se dirigiu às nações com maior número de armas nucleares e lamentou que, apesar de décadas de promessas, a ameaça nuclear esteja a acelerar e a evoluir.
"Reunimo-nos sob uma sombra que já deveria ter sido dissipada há muito tempo. Uma ameaça nascida do desígnio humano e prolongada pela insensatez humana. As armas nucleares continuam a ameaçar o nosso mundo (...), cada mais recentes e ainda mais perigosas", afirmou Rattray em nome de Guterres.
As ameaças dos testes nucleares regressaram à atualidade, as normas estão a desgastar-se e o diálogo a desaparecer, observou o líder na ONU, frisando que o "ruído do sabre nuclear está agora mais alto do que em décadas".
"O progresso duramente conquistado -- reduções nos arsenais e a cessação dos testes -- está a ser desfeito diante dos nossos olhos. Caminhamos sonâmbulos para uma nova corrida armamentista nuclear. Mais complexa, mais imprevisível e ainda mais perigosa", alertou.
As novas tecnologias e os novos domínios de conflito eliminaram a margem de erro deste tipo de armamento, assinalou o secretário-geral, apontando para mísseis hipersónicos e drones de águas profundas que estão a elevar o risco de escalada.
"Esta não é apenas uma crise de armamento. É uma crise de memória, de responsabilidade e de coragem", criticou.
Em julho passado, Guterres nomeou um Painel Científico Independente para avaliar os efeitos de uma eventual guerra nuclear.
O Painel terá de examinar os efeitos físicos e as consequências sociais de uma guerra nuclear em escala local, regional e planetária nos dias, semanas e décadas seguintes a um conflito dessa dimensão.
Tem igualmente o mandato de garantir que a resposta coletiva ao risco nuclear se baseia em provas científicas rigorosas.
O antigo primeiro-ministro português admitiu hoje que a eliminação total das armas nucleares não acontecerá de um dia para o outro, mas frisou que isso nunca acontecerá se os líderes "continuarem à espera de condições perfeitas".
Numa série de apelos, o líder das Nações Unidas dirigiu-se diretamente a Washington e a Moscovo, instando-os a negociarem novas reduções de arsenais, e exortou todos os Estados a apoiarem as vítimas da utilização e dos testes nucleares, assim como a enfrentarem os danos duradouros, como terrenos contaminados, doenças crónicas e traumas duradouros.
Apelou também a todos os Estados para que ratifiquem o Tratado de Proibição Completa dos Ensaios Nucleares, "pondo fim, de uma vez por todas, ao legado sombrio dos ensaios nucleares".
Os países que possuem armas nucleares devem regressar ao diálogo, disse, insistindo que devem também adotar medidas de transparência e de construção de confiança para evitar erros de cálculo catastróficos.
Devem igualmente garantir que os humanos mantêm sempre total responsabilidade e prestação de contas por qualquer decisão de utilização de armas nucleares.
Além disso, os Estados-membros devem honrar os seus compromissos ao abrigo do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.
Estas medidas, por si só, não construirão um mundo sem armas nucleares, assumiu o chefe das Nações Unidas, mas, avisou: se não forem tomadas, "entregamos o nosso futuro ao medo e silenciamos a promessa de paz".
"Chega de desculpas. Chega de atrasos. Chega de ignorar as obrigações legais. Chega de abandonar as gerações futuras", reforçou, durante a semana de alto nível da Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque.
"Se vacilarmos agora, condenaremos as gerações futuras a viver para sempre sob a sombra dos nossos erros", alertou, concluindo com um apelo: "Façamos os progressos há muito necessários para construir um mundo livre destas armas de extinção".
Alcançar o desarmamento nuclear global é a maior prioridade das Nações Unidas em matéria de desarmamento.
Foi o tema da primeira resolução da Assembleia-Geral da ONU, em 1946, que estabeleceu a Comissão de Energia Atómica (dissolvida em 1952), com o mandato de apresentar propostas específicas para o controlo da energia nuclear e a eliminação de armas atómicas e de todas as outras adaptáveis à destruição em massa.
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