No início da sessão parlamentar, o Partido Democrático (PD), o Movimento 5 Estrelas (M5S) e a Aliança Verde e de Esquerda (Avs) condenaram unanimemente o "ataque aberrante e inaceitável" alegadamente sofrido esta madrugada pelos navios da flotilha que leva ajuda humanitária a Gaza e apelaram ao Governo para que garanta a proteção dos cidadãos e tripulações italianos.
Os porta-vozes dos três partidos solicitaram ainda a convocação urgente do Conselho de Porta-vozes da Câmara dos Representantes para discutir o ataque e a porta-voz do M5S, Stefania Ascari, anunciou que iria bloquear os trabalhos parlamentares "de todas as formas possíveis", tanto na sessão plenária como nas comissões.
O Presidente da Câmara dos Deputados, Lorenzo Fontana, aceitou antecipar a reunião do Conselho de Porta-vozes, inicialmente marcada para esta tarde, para o final da sessão da manhã, mas alguns deputados "ocuparam a sala" e os lugares do Governo em sinal de protesto, garantindo que ali continuarão até que o executivo se apresente para prestar explicações.
O pedido foi acolhido pelo Governo, que manifestou a sua disponibilidade imediata para que o ministro da Defesa, Guido Crosetto, compareça no plenário na quinta-feira.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Antonio Tajani, adiantou também ter pedido à embaixada de Itália em Telavive que reiterasse o apelo anteriormente feito ao Governo israelita para garantir a proteção absoluta das tripulações.
Tajani, que se encontra em Nova Iorque para a Assembleia Geral da ONU, recebeu informação de que a flotilha de Gaza tinha sido novamente atacada quando os navios se encontravam junto à ilha de Creta, na Grécia, de acordo com um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
"Para garantir a sua segurança, o Ministério dos Negócios Estrangeiros já tinha notificado as autoridades israelitas de que qualquer operação confiada às forças israelitas seria realizada em conformidade com o direito internacional e o princípio da precaução absoluta", refere o Governo italiano no comunicado.
A flotilha, onde se encontram ativistas de vários países, incluindo Portugal, disse na terça-feira ter testemunhado "pelo menos 13 explosões" e vários "drones não identificados" enquanto atravessava o Mediterrâneo em direção à Faixa de Gaza, acrescentando ter sido também alvo de "interferência nas comunicações".
A organização afirmou numa mensagem publicada nas redes sociais,que as explosões foram ouvidas "dentro e à volta de vários navios da flotilha" e que vários tripulantes viram "objetos a serem lançados por drones ou aeronaves contra pelo menos 10 navios, causando danos".
A flotilha é composta por 51 navios, de acordo com o portal de internet que permite rastrear o trânsito no mar, incluindo seis barcos atracados na Grécia que aguardam para se juntar às delegações que deixaram Espanha, Tunísia e Itália para continuarem a sua viagem juntos até Gaza.
"O ataque durou algumas horas e teve como objetivo esgotar psicologicamente as pessoas que estavam nos barcos à noite, no escuro, em mar aberto", disse a porta-voz dos navios da flotilha italiana, Maria Elena Delia, em declarações à imprensa.
"Pelo menos 15 drones atacaram-nos. Primeiro, descarregaram substâncias urticantes, depois lançaram bombas sónicas e, por fim, embateram nos barcos. Quatro ou cinco ficaram danificados, incluindo o nosso, e já não poderão navegar", acrescentou.
A iniciativa é considerada a maior flotilha organizada até à data, procurando levar ajuda humanitária ao enclave palestiniano.
A bordo da flotilha seguem a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, o ativista Miguel Duarte e a atriz Sofia Aparício, bem como a ativista ambiental sueca Greta Thunberg.
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