"A mediação do Qatar conseguiu, em cooperação com o Egito e os Estados Unidos, a libertação de reféns [pelo Hamas]. No entanto, o último acordo foi anulado unilateralmente por Israel, impedindo a possibilidade de se chegar a um cessar-fogo permanente", afirmou Tamim bin Hamad al-Thani, intervindo no Debate Geral da 80.ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque.
"Se a libertação dos reféns israelitas é o fim da guerra, o Governo de Israel abandona a noção de libertação dos reféns", sustentou o emir qatari, para quem o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anseia por continuar a guerra para conseguir "o que chama de 'Grande Israel'".
Netanyahu pretende "destruir Gaza para torná-la inabitável e onde ninguém possa estudar ou receber tratamento" e "acredita que a guerra é uma oportunidade para expandir os colonatos e mudar o 'status quo' nos locais sagrados", alertou o emir do Qatar.
Al-Thani voltou a condenar o ataque israelita em Doha, no dia 09 de setembro, que visou a delegação do movimento islamita palestiniano Hamas presente nas negociações para um cessar-fogo em Gaza.
Este "ataque traiçoeiro" veio confirmar que Netanyahu "se orgulha de mudar a face do Médio Oriente", disse Al-Thani, que negou que Israel seja "um país democrático cercado de inimigos", como quer fazer crer.
"Israel é inimigo dos seus vizinhos, está envolvido num genocídio e o seu líder orgulha-se de impedir a criação de um Estado palestiniano, de impedir a paz com os palestinianos e de continuar a impedi-la no futuro", criticou.
Por seu lado, o Rei da Jordânia, Abdullah II, defendeu perante os Estados-membros da ONU que o reconhecimento do Estado da Palestina -- como fizeram Portugal e outros 10 países nos últimos dois dias -- "não é uma recompensa nem algo que os palestinianos devam conquistar", mas sim "um direito indiscutível" e parte da solução de dois Estados defendida por Amã.
O monarca criticou a inação da comunidade internacional perante a situação que vive a população da Faixa de Gaza após quase dois anos de ataques israelitas, que mataram mais de 65.000 pessoas e que um comité independente da ONU determinou como genocídio.
"Quanto tempo passará antes de exigirmos os mesmos padrões a todas as nações?", questionou Abdullah II.
"Quase dois anos depois, a crueldade desta campanha militar continua. Os apelos provocadores do atual governo israelita por um suposto 'Grande Israel' só podem tornar-se realidade através de uma violação flagrante da soberania e integridade territorial dos seus vizinhos", afirmou, referindo-se aos ataques de Israel contra o Líbano, a Síria, o Irão, a Tunísia e o Qatar.
Perante o que considerou um duplo padrão internacional, perguntou: "Se um líder árabe fizesse um apelo tão escandaloso, encontraria a mesma apatia mundial?".
Abdullah II pediu ainda que se deixe de considerar Israel como um parceiro disposto a alcançar a paz, considerando que aquele país "está a enterrar intencionalmente a própria ideia de um Estado palestiniano".
Leia Também: Egito confirma reforço militar no Sinai junto à Faixa de Gaza