"Estes casos de presos políticos que foram isolados das suas famílias e advogados são um testemunho arrepiante da brutalidade da repressão na Venezuela", afirmou Juanita Goebertus, diretora para as Américas do ODH, citada num comunicado. "Os governos devem fazer todos os esforços diplomáticos para garantir a libertação destes detidos", apontou.
O ODH e o Comité pela Liberdade dos Presos Políticos na Venezuela (CLIPPVE) documentaram 19 casos de detenções em regime de incomunicabilidade. As organizações entrevistaram familiares e analisaram documentos submetidos às autoridades, todos ignorados. A maioria dos detidos tem ligações à oposição e está privada de visitas e chamadas telefónicas desde o momento da detenção.
Em 24 de agosto do ano passado, 13 presos políticos foram libertados, incluindo Américo De Grazia, dirigente opositor sequestrado por homens encapuzados em agosto de 2024. A sua família passou mais de 380 dias sem qualquer contacto direto.
A maioria dos detidos encontra-se no Helicoide, sede do SEBIN em Caracas. A Missão Internacional de Averiguação da ONU sobre a Venezuela identificou naquele centro a existência de salas de tortura. Outros estão na prisão de alta segurança de Rodeo I, no estado de Miranda. Em maio, alguns detidos foram autorizados a fazer uma chamada.
Entre os casos em destaque está Freddy Superlano, coordenador nacional do partido Voluntad Popular, detido desde 30 de julho de 2024. A sua esposa relatou que só soube que ele estava vivo porque os guardas lhe entregavam roupa suja e bilhetes com pedidos de artigos básicos. Em agosto deste ano, foi-lhe comunicado informalmente que ele e o jornalista Roland Carreño tinham sido transferidos, mas as autoridades não confirmaram o seu paradeiro.
Segundo o ODH, muitos familiares só descobrem o local de detenção dos seus entes queridos por meios informais, entrega de pertences ou chamadas de defensores públicos, dias depois das detenções. Mesmo quando os locais são identificados, os pedidos de visita são frequentemente recusados. Algumas famílias percorrem centenas de quilómetros até Caracas apenas para deixar comida ou medicamentos.
Relatos indicam que vários detidos apresentam condições médicas pré-existentes ou agravadas durante a detenção. Os familiares não recebem informações oficiais sobre o estado de saúde nem prescrições.
Os detidos enfrentam acusações como "terrorismo" ou "incitação ao ódio" por alegada participação em atos de desestabilização. Muitos foram formalmente acusados em audiências virtuais, sem acesso a advogados escolhidos pelas famílias. Alguns pedidos de representação legal foram rejeitados por ausência de assinatura dos próprios detidos, que estavam incomunicáveis.
"A nossa única maneira de mostrar amor e que pensamos neles é enviando comida, roupa e medicamentos", afirmou um familiar. Em 4 de agosto de 2025, o Helicoide restringiu a entrega de alimentos e bens pessoais a apenas um dia por semana.
Em outros casos, visitas temporariamente autorizadas foram novamente suspensas. Josnars Baduel, detido desde 2020 por alegadamente participar numa tentativa de invasão marítima esteve incomunicável durante os primeiros cinco meses de 2025 e voltou a estar isolado desde agosto.
O ODH sublinha que a incomunicabilidade prolongada pode constituir tortura. O Tribunal Interamericano de Direitos Humanos reconhece que o isolamento provoca sofrimento psicológico e aumenta o risco de abusos.
As organizações apelam a que os governos estrangeiros usem os fóruns regionais e internacionais, como a cimeira UE-CELAC, em novembro, para pressionar a libertação dos presos políticos. O Vaticano é igualmente instado a usar a canonização de dois venezuelanos, prevista para outubro, como oportunidade diplomática para exigir o fim das detenções em regime de incomunicabilidade.
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