"Durante muitos anos, a FM e outros alertaram que, se as elites políticas continuassem a ignorar as preocupações dos cidadãos comuns, a enriquecer com recursos públicos e a negligenciar a questão da transição geracional de liderança, o resultado seria um aumento do descontentamento e um conflito sociopolítico violento", pode ler-se num artigo divulgado pela organização.
Segundo a FM, os líderes que se "apoiam apenas na legitimidade do passado, adiando a renovação política dificilmente construirão instituições suficientemente resilientes para suportas as pressões emergentes".
"Pensam que a maioria dos jovens é estúpida, que não sabe. Eles é que falam bem inglês, eles é que se consideram inteligentes. Por isso, não falam de investimento nas pessoas. A educação está destruída, os problemas de saúde são graves. A maioria dos setores de investimento humano não é prioridade. Eles investem em si mesmo através de viagens, andam pelo mundo a dizer que são líderes", disse à Lusa o diretor executivo da FM.
Nelson Belo defendeu que é necessário começar a discutir com as novas gerações, caso contrário Timor-Leste nunca se vai desenvolver.
"Têm de começar a falar sobre o que chamamos de transferência de poder para a geração jovem. Muitos jovens formaram-se em Harvard, em Oxford, em universidades muito prestigiadas. Falam muito bem português e inglês, estão bem preparados para governar o país. Mas estes homens continuam lá. Continuam a falar do passado, dos problemas da luta na selva, do tempo em que estavam no estrangeiro, mas não falam de desenvolvimento, de investimento nos jovens, do futuro do país", salientou o analista político.
Na análise aos protestos dos estudantes, a FM denuncia que o recrutamento e ascensão política em Timor-Leste continua enraizado na "lealdade a líderes e partidos estabelecidos, em vez da competência e integridade".
"Os grupos de artes marciais e rituais estão entre as poucas organizações que recrutam sistematicamente jovens e os envolvem na política, o que tem sido motivo de séria preocupação para muitos observadores", salienta o artigo.
Os universitários timorenses saíram à rua para a exigir o cancelamento da compra de novas viaturas para os deputados, o fim da pensão vitalícia para os parlamentares, a revisão da lei sobre liberdade de reunião e manifestação e financiamento adequado para os setores produtivos no debate do próximo Orçamento do Estado, que terá início em outubro.
Na quarta-feira, os cinco partidos que compõem o parlamento comprometeram-se com as exigências dos estudantes, um dia depois de terem aprovado uma resolução a cancelar a compra de viaturas.
Para a FM, se a cedência dos deputados "demonstra a força da pressão cívica", por outro lado, a rapidez com foi feita "levanta dúvidas sobre se estas representam reformas genuínas ou se são apenas uma forma de apaziguamento por parte das elites".
"É também importante notar que as questões que dominaram os protestos, embora sejam poderosos símbolos de autoenriquecimento das elites não são os problemas de governação mais graves que o país enfrenta", adverte a FM.
Para a organização, o problema mais grave é a "corrupção e captura do Estado", incluindo "abuso sistemático de contratos públicos, desvio de fundos estatais e a expansão contínua das pensões para veteranos, que consomem muitos mais recursos do que veículos ou benefícios parlamentares".
A FM defende que o setor produtivo deve ser a prioridade, para melhorar os padrões de vida e diminuir a "dependência insustentável das reservas petrolíferas".
"O futuro do desenvolvimento político de Timor-Leste será determinado não por gestos simbólicos, mas pela capacidade das lideranças políticas em cumprir o essencial: oportunidades económicas inclusivas, serviços públicos funcionais, participação da juventude e fim da corrupção e do nepotismo", concluiu.
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