Numa reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, pedida pela Polónia após o incidente, a embaixadora norte-americana junto às Nações Unidas, Dorothy Shea, afirmou que a "violação do espaço aéreo de um aliado norte-americano -- intencional ou não -- demonstra um imenso desrespeito pelos esforços de boa-fé dos EUA para pôr fim a este conflito".
"Os EUA apoiam os nossos aliados da NATO face a estas alarmantes violações do espaço aéreo. Os EUA estão em consulta com a Polónia e com os nossos outros aliados da NATO, nos termos do artigo 4.º do Tratado do Atlântico Norte, e tenham a certeza de que defenderemos cada centímetro do território da NATO", frisou Shea.
Este incidente "não contribui para os esforços extraordinários que os Estados Unidos têm empreendido nas últimas semanas para intermediar o fim da guerra", observou a diplomata, exigindo a Moscovo que cumpra o seu compromisso com a diplomacia, "procurando o fim imediato das hostilidades através de negociações diretas com a Ucrânia".
A embaixadora notou ainda que, desde a cimeira do Alasca, entre o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o seu homólogo russo, Vladimir Putin, a 15 de agosto, a Rússia intensificou a sua campanha de bombardeamentos contra a Ucrânia, resultando em mortes e danos nas infraestruturas civis.
"Estas ações, agora com o acréscimo da violação do espaço aéreo de um aliado dos EUA -- intencional ou não -- demonstram um imenso desrespeito pelos esforços de boa-fé dos EUA para pôr fim a este conflito", sublinhou Shea.
Ao contrário da prática comum da nova administração norte-americana, que costuma pressionar Kiev e Moscovo pelo fim da guerra, desta vez Dorothy Shea direcionou a pressão apenas para a Rússia.
"Não podemos correr o risco de que este se transforme num conflito mais vasto. A Rússia deve demonstrar a sua seriedade, tomando medidas imediatas e concretas no sentido da paz", concluiu.
A embaixadora britânica, Barbara Woodward, assegurou na reunião que a "atitude extremamente imprudente" da Rússia apenas fortalece a unidade entre as nações da NATO e o apoio à Ucrânia.
Woodward rejeitou ainda que este se trate de um incidente isolado de Moscovo, frisando que nos últimos três meses registou-se um aumento significativo de vítimas infantis nos ataques russos e que prédios governamentais foram atingidos.
"Tudo isso faz parte de um padrão claro de escalada. (...) E mostra-mos Putin como ele realmente é", disse a diplomata, assegurando que os aliados ucranianos não se sentem intimidados e estão determinados a aumentar a pressão sobre o líder russo.
Por sua vez, o embaixador russo, Vasily Nebenzya, assegurou que Moscovo não tem qualquer interesse em escalar as tensões com Varsóvia, acusando a Polónia e aliados europeus de se precipitarem a tirar conclusões.
Nebenzya disse ainda ser "fisicamente impossível" que os drones que estavam a ser usados pela Rússia na noite do ataque tenham atingido território polaco.
Nebeznya acusou a Polónia de não ter provas de que os drones em causa são russos.
Contudo, o ministro das Relações Exteriores polaco, Marcin Bosacki, que viajou até Nova Iorque para participar na reunião, contestou essa alegação de Moscovo, mostrando aos diplomatas imagens dos drones abatidos na Polónia e que tinham inscrições em russo.
O ministro polaco, que acusou Nebenzya de "mentir descaradamente", referiu-se aos drones russos como "instrumentos de terror" que destruíram lares e comunidades por toda a Ucrânia e, por isso, a Polónia "desativou-os preventivamente".
"O nosso colega russo chamou a isto de 'uma possível avaria, erro ou coincidência'. Uma ou duas vezes pode ser uma coincidência ou avaria, mas não 19 vezes, nem 19 intrusões realizadas em sete horas", afirmou Marcin Bosacki.
Pouco antes do início da sessão, Bosacki leu uma carta --- apoiada por 46 países, incluindo todos os Estados da União Europeia e os Estados Unidos --- na qual observou que a intrusão russa representava a primeira vez, desde o início da guerra na Ucrânia, que a integridade territorial da Polónia e, ao mesmo tempo, da NATO e da União Europeia, havia sido violada, e isso "numa escala massiva e sem precedentes".
Para o ministro, convocar o encontro de hoje representa um recurso à "diplomacia preventiva" para evitar que uma escalada do conflito "leve toda a região [Europa Oriental] para mais perto do conflito do que em qualquer outro momento dos últimos anos".
[Notícia atualizada às 22h05]
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