A decisão de lançar um ataque contra os líderes do Hamas em Doha "foi tomada pelo primeiro-ministro [israelita] Benjamin Netanyahu, não por mim", escreveu Donald Trump na rede social Truth.
Tratou-se, adiantou, de um "incidente lamentável" numa altura "que poderia ser uma oportunidade para a PAZ".
Afirmando estar "muito desconfortável" com os ataques, Trump disse ter manifestado desagrado diretamente ao primeiro-ministro israelita, após o ataque, tendo falado ainda com o emir do Qatar, o xeque Tamim bin Hamad Al-Thani, a quem "garantiu que tal coisa não voltaria a acontecer".
Antes, a porta-voz da Casa Branca advertiu que o ataque israelita contra altos dirigentes do Hamas no Qatar "não promove os objetivos de Israel ou dos Estados Unidos".
"Bombardear unilateralmente o Qatar, uma nação soberana e aliada próxima dos Estados Unidos, que está a trabalhar arduamente, corajosamente e a correr riscos para negociar a paz, não promove os objetivos de Israel ou dos Estados Unidos", comentou Karoline Leavitt aos jornalistas, referindo-se à mediação da guerra na Faixa de Gaza.
Vários meios de comunicação social israelitas, entre os quais a televisão pública Kan, noticiaram que Israel informou os Estados Unidos sobre o ataque dirigido contra os dirigentes do Hamas, quando se reuniam para apreciar uma proposta negocial de Washington na capital do Qatar, que, a par dos Estados Unidos e do Egito, é um dos países mediadores do conflito.
Donald Trump visitou o Qatar em maio, no âmbito de uma viagem a vários Estados da região do Golfo, e que alberga uma importante base militar norte-americana, tendo sido na ocasião presenteado com um Boeing 747-8.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, justificou o ataque hoje executado com o atentado ocorrido na segunda-feira em Jerusalém, reivindicado pelo braço armado do Hamas e que provocou seis mortos.
Além disso, Netanyahu apontou também a participação dos visados nos massacres liderados pelo grupo palestiniano em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, que mataram cerca de 1.200 pessoas e desencadearam o atual conflito no enclave.
O chefe do Governo de Israel defendeu ainda que esta operação militar "poderá abrir caminho para o fim da guerra" na Faixa de Gaza, se o grupo islamita palestiniano aceitar a proposta norte-americana de cessar-fogo.
"Israel aceitou a proposta do Presidente Donald Trump de pôr fim à guerra, começando pela libertação de todos os nossos reféns, que estão presos em Gaza há mais de 700 dias. Se aceitarem a proposta de Trump, a guerra pode terminar imediatamente", declarou.
O Hamas anunciou pelo seu lado que cinco dos seus membros morreram na sequência do ataque, mas ressalvou que os responsáveis das negociações e que eram os alegados alvos de Israel sobreviveram.
"Confirmamos que o inimigo não conseguiu assassinar os nossos irmãos da delegação de negociação. Entretanto, vários dos nossos irmãos mártires ascenderam aos mais altos postos de glória", declarou o grupo num comunicado, que inclui os nomes dos cinco mortos.
O Ministério do Interior do Qatar informou pelo seu lado que um polícia qatari morreu no ataque e que outros membros das forças de segurança ficaram feridos.
A operação israelita em Doha foi condenada pela unanimidade dos países da região e pode ameaçar os esforços de paz promovidos por Estados Unidos, Egito e Qatar.
As autoridades de Doha consideraram que se tratou de uma ação cobarde e uma violação da sua soberania.
O ataque ocorre numa fase em que os militares israelitas se prepararam para ocupar a Cidade de Gaza e expulsar centenas de milhares dos seus habitantes, numa região do enclave que a ONU já declarou enfrentar uma situação de fome.
No centro das negociações entre as partes está a pausa das hostilidades, o desarmamento do Hamas e a libertação de 48 reféns que os militantes palestinianos conservam há quase dois anos, dos quais se estima que 20 estejam vivos.
Após os ataques de 07 de outubro de 2023, Israel lançou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou acima de 64 mil mortos, na maioria mulheres e crianças, segundo as autoridades locais controladas pelo grupo islamita, destruiu a quase totalidade das infraestruturas do território e provocou um desastre humanitário sem precedentes na região.
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