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"Invisíveis". Mulheres deixadas à sua mercê após sismo no Afeganistão

As mulheres afegãs foram deixadas à sua mercê, depois de um sismo de magnitude 6,0 ter assolado várias regiões montanhosas do país, no domingo, devido às convenções do regime talibã.

"Invisíveis". Mulheres deixadas à sua mercê após sismo no Afeganistão

© AFP via Getty Images

Daniela Filipe
05/09/2025 20:29 ‧ há 6 dias por Daniela Filipe

As mulheres afegãs foram deixadas à sua mercê, na sequência de um sismo de magnitude 6,0 que assolou várias regiões montanhosas do Afeganistão, no passado domingo. Isto porque, de acordo com as convenções do regime talibã, os homens estão proibidos de tocar em pessoas do sexo feminino que não sejam suas familiares.

 

As equipas de emergência chegaram à aldeia de Andarluckak, na província de Kunar, 36 horas após o abalo, que terá provocado mais de 2.205 mortos e 3.640 feridos. Para Bibi Aysha, de 19 anos, o alívio foi rapidamente substituído por medo, uma vez que não estava nenhuma mulher entre os socorristas. A jovem disse, inclusive, que os homens e as crianças feridas foram auxiliados, mas que as mulheres e as adolescentes foram colocadas de parte.

"Juntaram-nos num canto e esqueceram-se de nós", contou ao The New York Times.

Aliás, de acordo com Tahzeebullah Muhazeb, um voluntário que ajudou nas operações em Mazar Dara, também em Kunar, detalhou que a equipa médica, que era composta exclusivamente por homens, hesitou em retirar as mulheres dos escombros. Estas vítimas foram, por isso, deixadas sob os detritos, à espera que mulheres de outras aldeias acorressem ao local.

"Parecia que as mulheres eram invisíveis. Os homens e as crianças foram tratados primeiro, mas as mulheres ficaram sentadas à parte, à espera de cuidados", disse.

O jovem de 33 anos apontou ainda que, se nenhum familiar do sexo masculino estivesse presente, os socorristas arrastavam as mulheres mortas pelas roupas, para evitar tocar-lhes diretamente na pele.

"Não podemos falar com as mulheres, nem tentar contactá-las, porque é proibido. Mesmo tocar numa mulher morta terá consequências", disse um membro das equipas de emergência, em condição de anonimato, ao The Telegraph.

Médicos do hospital provincial de Jalalabad admitiram àquele meio que os profissionais de saúde do sexo masculino recusaram-se a prestar tratamento às vítimas do sexo feminino, nas primeiras horas após o sismo. Um trabalhador comunitário de saúde revelou também que mais de três mulheres grávidas morreram devido à falta de assistência.

"Acredito que o número possa ser muito alto, na casa das centenas", lamentou.

Em 2023, quase seis em cada dez pessoas que morreram eram mulheres

Na terça-feira, a representante especial da ONU Mulheres no Afeganistão, Susan Ferguson, deu conta da "necessidade de as mulheres afegãs humanitárias fazerem parte" das equipas de emergências, ao mesmo tempo que apelou aos "socorristas locais e internacionais [para] garantirem que as mulheres e as meninas tenham prioridade na resposta – desde assistência e cuidados urgentes até abrigo seguro e proteção".

"As mulheres e as raparigas voltarão a ser as mais afetadas por esta catástrofe, por isso temos de garantir que as suas necessidades estão no centro da resposta e da recuperação. Isto inclui apoiar o trabalho vital das mulheres humanitárias – caso contrário, as mulheres e as raparigas poderão perder assistência ou informações que salvam vidas nos próximos dias", disse, em comunicado.

A responsável pediu também "mais apoio para satisfazer as necessidades mais urgentes das mulheres e raparigas, incluindo abrigos de emergência, cobertores e utensílios de cozinha, produtos de higiene pessoal e suprimentos médicos essenciais - que, segundo relatos, estão a escassear -, bem como água potável e alimentos".

ACNUR preocupada com mulheres e crianças perante sismos

ACNUR preocupada com mulheres e crianças perante sismos

A agência da ONU para os refugiados disse hoje estar preocupada com as populações vulneráveis do Afeganistão, nomeadamente mulheres, crianças, deficientes e idosos, face ao agravamento da crise no país, na sequência dos terramotos de domingo.

Lusa | 14:59 - 02/09/2025

O organismo recordou que, no sismo que devastou a província de Herat, no oeste do Afeganistão, em 2023, quase seis em cada dez pessoas que morreram eram mulheres, assim como quase dois terços dos feridos.

Sublinhe-se, contudo, que o representante para o Afeganistão no Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA, na sigla em inglês), Jaime Nadal, considerou que não teria havido uma discrepância no género das vítimas mortais se o sismo tivesse acontecido de noite. O responsável argumentou que, "a essa hora do dia, os homens estavam no campo", ao passo que "as mulheres estavam em casa a fazer as tarefas domésticas e a tomar conta das crianças".

Recorde-se que um sismo de magnitude 6,0 na escala de Richter abalou o país às 23h47 de domingo (20h17 em Lisboa), tendo sido seguido por, pelo menos, dois abalos de magnitude 5,2. Na quinta-feira, registou-se um novo sismo de magnitude 5,6, pelas 22h26 (18h56 em Lisboa).

Leia Também: Afeganistão regista novo sismo de 5,6. É o mais forte desde domingo

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