A história é falsa, mas o vídeo "chocante da menina paquistanesa de 11 anos, casada com um homem de 60, que deu à luz aos 12", já tem milhões de visualizações.
Na realidade, são imagens de irmãs vietnamitas.
Alegação: "Caso chocante no Paquistão de uma menina que deu à luz aos 12 anos"
Na terça-feira, 3 de setembro, uma alegada jornalista árabe denunciou na rede social X, antigo Twitter, "um caso chocante" alegadamente ocorrido no Paquistão, onde "uma menina de 11 anos, casada com um homem de 60 anos, deu à luz aos 12...!". Na mesma mensagem, já com perto de 18 milhões de visualizações, a autora tece várias críticas ao Islão, classificando-o de "culto" e de "religião de abuso sexual de crianças...!" (https://archive.is/lLyP7).
A publicação é acompanhada de um vídeo de 43 segundos que mostra uma menina deitada numa cama de hospital enquanto ampara um bebé recém-nascido em cima da barriga. Vê-se também uma enfermeira ou médica que acaricia as cabeças das duas crianças, enquanto conversa calmamente com elas, numa língua que parece asiática. Sobre as imagens surge a mensagem "11 anos e já mãe".
Esta e outras versões do vídeo foram também partilhadas em Portugal por várias contas do X, incluindo contras nacionalistas e de direita radical: https://archive.is/59bee, https://archive.is/foYkS, https://archive.is/5SbS9 e https://archive.is/1ODsA (exemplos de partilhas com comentário, dado que há mais contas que apenas fizeram 'retweet' e essas partilhas não podem ser arquivadas da mesma forma).
Factos: O vídeo original é de 2024 e mostra duas irmãs vietnamitas
Pesquisas sobre o caso não revelaram notícias fidedignas, mas várias pesquisas reversas de alguns fotogramas do vídeo resultam na detecção de dezenas de publicações do mesmo vídeo em várias redes sociais, geralmente associados a histórias de gravidezes precoces (exemplo: https://archive.is/pEybV) incluindo de uma alegada menina portuguesa de apenas 8 anos (https://ghostarchive.org/archive/wqZQR) ou de uma menina tailandesa da mesma idade: https://archive.is/pQdnT (exemplo).
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Alguns comentários na publicação da alegada jornalista também apontavam para a ocorrência de outras histórias sobre aquelas imagens, como a da tal menina de 8 anos, numa referência a um conteúdo em português erradamente atribuído a Portugal (https://archive.is/tTLOs), ou de uma menina de 12 anos chamada Mia (https://archive.is/nWwOE), nenhuma com fontes fiáveis.
Acresce que a própria conta que divulgou a história apresenta vários indícios de ser um perfil falso criado para disseminar desinformação islamofóbica, dado que as imagens da alegada jornalista foram claramente geradas por Inteligência artificial e o conteúdo da conta contém inúmeros exemplos de desinformação.
Por exemplo, uns dias antes, a mesma conta publicou outra história semelhante, igualmente sem fontes (https://archive.ph/n33Sa), e já tinha amplificado a desinformação sobre 85% dos refugiados do mundo serem muçulmanos: https://archive.ph/bmjzA, uma afirmação falsa já verificado pela Lusa Verifica.
Um portal paquistanês também afirma que aquela conta é gerida por um homem indiano, mas a Lusa Verifica não conseguiu confirmar essa versão: https://archive.is/6fwg5.
No entanto, mais pesquisas reversas dos fotogramas do vídeo permitem encontrar uma versão mais antiga e mais longa daquele vídeo, com 2 minutos e 51 segundos, publicada no TikTok em 9 de agosto de 2024, com a legenda: "A irmã mais velha pesa 700g e a mais nova 900g. Os dois anjinhos da mamã. As duas já cresceram e compreendem muito bem a mãe": https://archive.is/lZKKw.
A consulta desse canal permite encontrar mais vídeos das duas crianças e perceber que foram partilhados pela progenitora, que explica ser mãe de "dois bebés prematuros, um de 700g e outro de 900g" e ali "partilhar conhecimento sobre como cuidar de bebés prematuros": https://archive.is/AtDdO.
Alguns dos vídeos partilhados por mulher permitem também identificar a maternidade onde o parto teve lugar, nomeadamente o hospital pediátrico de Long An, situado na cidade de Tân An, nos arredores da cidade de Ho Chi Minh, antiga Saigão. Esta informação pode ser confirmada na conta Tiktok da médica obstetra que acompanhou a bebé prematura: https://archive.is/tqxOY.
Além disso, a 11 de agosto do ano passado, ainda no hospital, a mãe das duas crianças gravou também um vídeo a esclarecer que as imagens que circulam nas redes sociais mostram duas irmãs, ambas nascidas de partos prematuros, e não de mãe e filha, como erradamente circula: https://archive.ph/Id4mU.
Avaliação Lusa Verifica: Falso
É falso que o vídeo da menina e do bebé que circula nas redes sociais ilustre o parto de uma menina portuguesa, tailandesa ou paquistanesa de 8 a 12 anos casada com um homem de 60 anos. As imagens são comprovadamente do Vietname e mostram uma menina a segurar a sua irmã recém-nascida.
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