Se os socialistas votarem contra, como anunciaram, não conseguirão formar um governo alternativo como pretendem, advertiu o chefe de Governo francês.
Em entrevista hoje ao canal de televisão BFMTV, Bayrou afirmou que o Partido Socialista (PS) "deve propor a abstenção se quiser formar governo".
O primeiro-ministro centrista decidiu apresentar um voto de confiança, que deve ser votado em 08 de setembro, com o objetivo de conseguir apoio para a sua proposta de Orçamento para 2026, que inclui um ajustamento de quase 44 mil milhões de euros.
No entanto, o bloco da oposição --- que, no seu conjunto, detém a maioria absoluta na Assembleia Nacional --- afirmou que votará contra, incluindo o PS.
Entretanto, para quebrar o impasse e tentar evitar uma crise governamental, o Presidente francês, Emmanuel Macron, organizou na terça-feira um almoço com os líderes dos partidos que apoiam o Governo de Bayrou para lhes pedir que procurassem um acordo com o PS.
Uma iniciativa que recebeu uma resposta parcialmente favorável do secretário-geral do PS, Olivier Faure, que, em entrevista à estação televisiva LCI, afirmou estar "à disposição" do chefe de Estado para discutir as "condições" sob as quais a esquerda poderia liderar um Governo.
Faure esclareceu que não aceita a ideia de "um governo que seja tanto de direita como de esquerda", mas gostaria de "um governo de esquerda" que negociasse "projeto a projeto" para obter apoios numa Assembleia Nacional que "não seja exclusivamente de esquerda e na qual ninguém tenha maioria absoluta".
Depois destas declarações, Bayrou afirmou que "Olivier Faure acredita que pode ser nomeado primeiro-ministro", mas "a questão é com que maioria", já que o socialista afirmou também que não faria uma coligação com a França Insubmissa (LFI -- extrema-esquerda), de Jean-Luc Mélenchon.
Bayrou insistiu que o líder socialista não pode esperar obter a maioria sem a LFI se, ao mesmo tempo, derrubar o atual Governo, apoiado pelo chamado "bloco central" - cujos votos vai necessitar mais tarde.
O primeiro-ministro francês reiterou a ideia de que os deputados que votarem contra a sua moção de confiança na próxima segunda-feira devem questionar-se se esta decisão beneficiará o país.
"Se representam os franceses (...), perguntem-se onde reside o interesse nacional", afirmou Bayrou, sublinhando que a queda do Governo "criará instabilidade no país", quando a situação das finanças públicas é "grave e urgente" e os franceses "querem estabilidade".
O primeiro-ministro centrista declarou estar aberto a negociar o conteúdo do seu plano de ajustamento, mas recusou abandonar uma das medidas mais controversas incluídas no plano, a eliminação de dois feriados, algo a que até mesmo vários parlamentares do bloco central são contrários.
O seu argumento é que está disposto a desistir da medida assim que encontrar outras soluções que permitam uma poupança equivalente, estimada em cerca de quatro mil milhões de euros.
Bayrou começou a receber partidos políticos na segunda-feira, numa tentativa desesperada de salvar a sua posição e o seu Governo, e na quinta-feira receberá o Partido Socialista (PS), apesar da formação política afirmar que a sua decisão de votar contra o primeiro-ministro já foi tomada.
Se, como tudo indica, o Governo de Bayrou cair na segunda-feira, caberá a Macron decidir se nomeia outro primeiro-ministro, que procurará uma maioria alternativa numa Assembleia Nacional extremamente fragmentada, ou se convoca eleições legislativas antecipadas.
Leia Também: França prevê que europeus confirmem garantias de segurança na 5.ª-feira