"Desconhece o respeito pelo poder judicial e os princípios básicos de um Estado de direito", considerou a Associação Profissional da Magistratura, a que representa mais juízes em Espanha.
Para a presidente desta associação, María Jesús del Barco, citada pela agência de notícias Europa Press, a Sánchez "custa-lhe entender que os juízes aplicam a lei também quando o suspeito é da família do presidente do Governo" e que isso "é o normal em democracia".
"Os juízes cumprem a lei, trabalham com profissionalismo e na defesa dos direitos dos cidadãos", disse também a Associação Judicial Francisco de Vitoria, num comunicado em que considerou que "não é aceitável questionar a integridade de todo um poder do Estado", referindo-se às declarações do primeiro-ministro.
O porta-voz desta associação, Sergio Oliva, acrescentou, em declarações à Europa Press, que "se alguém acredita que um juiz atua mal, há canais legais" para responder, condenando "críticas genéricas à judicatura", que "geram desconfiança social e causam danos à democracia".
"E é especialmente grave que estas críticas venham do presidente do Governo, a quem se exige maior prudência e respeito pela justiça", afirmou.
Também o Fórum Judicial Independente considerou "muito graves e populistas" as declarações de Sánchez, que enquadrou numa "estratégia política de deslegitimação do poder judicial".
Só uma associação de magistrados, a Juízes e Juízas para a Democracia, através do porta-voz Edmundo Rodríguez, considerou que "não há dúvida sobre a instrumentalização de certos processos judiciais por razões partidárias" em Espanha.
Ainda assim, admitiu que "talvez não corresponda ao presidente do Governo fazer estas manifestações".
Sánchez disse na segunda-feira, em entrevista à televisão pública espanhola (TVE), que "há juízes a fazer política" no país e garantiu que a continuidade do Governo que lidera depende da atuação do executivo e não da justiça.
"Ainda que confiando na Justiça e ainda que pensando que a imensa maioria de juízes fazem bem o seu trabalho, há juízes que não [são assim]", disse Sánchez, num momento em que antigos ministros e ex-dirigentes do Partido Socialista (PSOE), assim como a mulher e o irmão, estão envolvidos em casos judiciais e suspeitas de corrupção.
"Há juízes a fazer política e políticos que tentam fazer justiça, sem dúvida alguma. São uma minoria, mas provocam um dano terrível à justiça", acrescentou o líder do Governo espanhol e do PSOE, que neste ponto se referia em concreto ao irmão, David Sánchez, e à mulher, Begoña Gómez.
Para Sánchez, há juízes com "um problema de desempenho, de instrução" que, "no fim, estão a pagar duas pessoas por serem familiares" do primeiro-ministro.
Sublinhando que estão em causa, nestes dois casos, "denúncias falsas" de "organizações da extrema-direita", Sánchez garantiu "a inocência e a honestidade" do irmão e da mulher e disse que espera que a justiça e o tempo "coloquem as coisas no seu lugar".
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