"Ainda que confiando na Justiça e ainda que pensando que a imensa maioria de juízes fazem bem o seu trabalho, há juízes que não [são assim]", disse Sánchez à televisão pública espanhola (TVE), na primeira entrevista que concedeu em 14 meses e num momento em que antigos ministros e ex-dirigentes do Partido Socialista (PSOE), assim como a mulher e o irmão, estão envolvidos em casos judiciais e suspeitas de corrupção.
"Há juízes a fazer política e políticos que tentam fazer justiça, sem dúvida alguma. São uma minoria, mas provocam um dano terrível à Justiça", acrescentou o líder do Governo espanhol e do PSOE, que neste ponto se referia em concreto ao irmão, David Sánchez, e à mulher, Begoña Gómez.
Para Sánchez, há juízes com "um problema de desempenho, de instrução" que, "no fim, estão a pagar duas pessoas por serem familiares" do primeiro-ministro.
Sublinhando que estão em causa, nestes dois casos, "denúncias falsas" de "organizações da extrema-direita", Sánchez garantiu "a inocência e a honestidade" do irmão e da mulher e disse que espera que a justiça e o tempo "coloquem as coisas no seu lugar".
Sánchez pensou demitir-se após suspeitas de corrupção dentro do partido
O primeiro-ministro espanhol voltou a admitir que pensou demitir-se em junho passado quando uma suspeita de corrupção atingiu o então 'número três' do PSOE e deputado, Santos Cerdán, considerado um dos homens politicamente mais próximos de Sánchez e mais influentes no percurso que o levou à liderança do PSOE e do Governo.
Decidiu porém continuar nos cargos demitindo de imediato Cerdán - que está hoje em prisão preventiva - e garantindo total colaboração com a Justiça, disse, sublinhando que não está em causa uma suspeita de "financiamento irregular" ou de "corrupção estrutural" no PSOE.
A continuidade do Governo "depende da ação do Governo, sem dúvida nenhuma", respondeu Sánchez quando questionado se dependia mais dos tribunais e da justiça do que da própria atuação do executivo.
Pedro Sánchez foi reinvestido primeiro-ministro em novembro de 2023 por uma 'geringonça' de oito partidos e o Governo nunca apresentou uma proposta de Orçamento do Estado ao parlamento nesta legislatura, como estabelece a Constituição espanhola.
Espanha mantém assim em vigor a lei de orçamento de há três anos, por impossibilidade de um acordo com todos os partidos necessários para aprovar uma proposta nova.
O líder do Governo disse hoje que pretende apresentar uma proposta de Orçamento do Estado para 2026 ao parlamento, mas rejeitou demitir-se caso seja 'chumbada', dizendo que a lei em vigor contém os instrumentos necessários para, por mais um ano, gerir os fundos europeus ou avançar e concretizar outras políticas.
Para Sánchez, "paralisia seria meter Espanha num processo eleitoral" neste momento.
Sobre os incêndios deste verão, que queimaram 400 mil hectares e são considerados os maiores de que há registo em Espanha, segundo dados oficiais provisórios, Sánchez voltou a apelar a um "pacto de Estado face às alterações climáticas".
E sublinhou que a tutela da prevenção e do combate está nos governos regionais, garantindo mais uma vez que o estado central mobilizou todos os meios possíveis para atender às solicitações das autonomias e fez a coordenação que lhe compete.
Ainda assim, admitiu que a coordenação entre os diversos níveis de administração pode melhorar e reiterou o apelo a uma reflexão e um pacto de estado nesta matéria.
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