"É uma decisão da Ucrânia escolher como garantir a sua segurança", afirmou Vladimir Putin durante uma reunião com o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, transmitida pela televisão.
"Mas a sua segurança (...) não pode ser garantida em detrimento da segurança de outros países, incluindo a Rússia", acrescentou, repetindo um argumento que tem usado desde que ordenou a invasão do país vizinho.
A Ucrânia, que pediu a adesão à NATO, a que a Rússia se opõe, pretende obter garantias de segurança para dissuadir Moscovo a invadir de novo o país no quadro de um acordo que permita o fim da guerra em curso.
A Ucrânia recebeu garantias de segurança em 1994, no âmbito do Memorando de Budapeste, que assinou com a Rússia, os Estados Unidos e o Reino Unido em troca do arsenal nuclear soviético estacionado no seu território.
O acordo não impediu a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2014, quando anexou a Península da Crimeia e patrocinou um movimento separatista no Donbass (leste), e em fevereiro de 2022.
Putin e Fico estão em Pequim para assistir ao desfile militar que celebrará os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a que presidirá o Presidente da República Popular da China, Xi Jinping.
Assistirá também ao desfile, entre outros convidados, o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, que chegou hoje a Pequim num comboio blindado proveniente de Pyongyang, numa das suas raras viagens ao estrangeiro.
Ao encontrar-se com Fico, Putin afirmou que as suspeitas de que a Rússia planeia lançar um ataque contra outro país europeu além da Ucrânia são "um disparate completo que não tem absolutamente nenhum fundamento".
Putin acusou os europeus, a quem chamou de "especialistas em filmes de terror", de tentarem provocar continuamente "histeria sobre a suposta intenção da Rússia de atacar a Europa", segundo a agência noticiosa espanhola EFE.
O líder russo disse que "qualquer pessoa em sã consciência sabe perfeitamente que a Rússia nunca teve, não tem e nunca terá o desejo de atacar ninguém".
"Trata-se de uma provocação ou de uma completa incompetência", afirmou Putin, também citado pela agência espanhola Europa Press.
Insistiu novamente que o conflito na Ucrânia não começou com a invasão de 2022, mas sim com um alegado "golpe de Estado" em Kiev em 2014, quando o presidente pró-russo Viktor Yanukovych foi deposto por um movimento pró-europeu.
Reafirmou também que a entrada da Ucrânia na NATO é inadmissível, enquanto nunca se opôs à entrada do país vizinho na UE, algo que Fico também apoiou.
Putin acusou a Aliança Atlântica de tentar absorver "praticamente todo o espaço pós-soviético", o que inclui a Ucrânia.
"Tínhamos de reagir", afirmou, aludindo à decisão de mandar invadir a Ucrânia.
Apesar das divergências, Putin admitiu haver margem para um consenso sobre as garantias de segurança exigidas por Kiev.
Disse que esse foi um dos pontos discutidos com o homólogo dos Estados Unidos, Donald Trump, no encontro inédito que mantiveram no Alasca, em 15 de agosto.
Putin mostrou-se aberto a colaborar com os Estados Unidos noutras frentes, em particular na gestão da central nuclear de Zaporijia, considerada a maior da Europa e tomada pelas forças russas há mais de três anos.
"Se as circunstâncias o permitirem, poderíamos cooperar a três na central", afirmou, com vista a uma potencial aliança entre a Rússia, a Ucrânia e os Estados Unidos.
A Rússia, que controla atualmente cerca de 20% do território da Ucrânia, declarou as anexações de Zaporijia, Kherson, Donetsk e Lugansk, além da Crimeia, não reconhecidas por Kiev nem pela generalidade da comunidade internacional.
[Notícia atualizada às 13h14]
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