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Impasse no CDC. Diretora recusa deixar cargo: "Só Trump pode demiti-la"

A diretora dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos foi demitida, na quarta-feira, por não ter acedido às pressões para alterar a política de vacinação do país. Contudo, os seus advogados argumentaram que Donald Trump terá de demiti-la pessoalmente.

Impasse no CDC. Diretora recusa deixar cargo: "Só Trump pode demiti-la"

© Getty Images

Daniela Filipe
28/08/2025 09:35 ‧ há 6 horas por Daniela Filipe

Mundo

EUA

A diretora dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, Susan Monarez, foi demitida, na quarta-feira, por ter recusado ceder à pressão para alterar a política de vacinação do país. Contudo, os seus advogados justificaram que, como a responsável foi nomeada pelo presidente, Donald Trump, terá de ser o chefe de Estado a demiti-la pessoalmente, e não funcionários da Casa Branca.

 

“Quando a diretora do CDC, Susan Monarez, se recusou a aprovar diretivas imprudentes e sem base científica e a despedir especialistas em saúde dedicados, ela escolheu proteger o público em vez de servir uma agenda política. Por isso, foi alvo de ataques”, consideraram os advogados de Monarez, Mark Zaid e Abbe Lowell, num comunicado divulgado nas redes sociais, no qual acusaram o secretário da Saúde Robert F. Kennedy Jr. de “usar a saúde pública como arma para obter ganhos políticos” e de “colocar em risco a vida de milhões de norte-americanos”.

Antes, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (HHS, na sigla em inglês) tinha anunciado que a responsável já não era “a diretora do CDC”, na rede social X (Twitter).

“Agradecemos-lhe pelo seu serviço dedicado ao povo norte-americano. O secretário Robert F. Kennedy Jr. tem total confiança na sua equipa no CDC, que continuará vigilante na proteção dos norte-americanos contra doenças infecciosas no país e no exterior”, apontou.

Mais tarde, o porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, reforçou que Monarez havia sido “demitida”, na noite de quarta-feira.

“Como ficou bem claro na declaração do seu advogado, Susan Monarez não está alinhada com a agenda do presidente de tornar os Estados Unidos saudáveis novamente. Como Susan Monarez se recusou a demitir-se, apesar de ter informado a liderança do HHS sobre sua intenção de fazê-lo, a Casa Branca demitiu Monarez do seu cargo no CDC”, disse, citado pelo The Washington Post.

No entanto, Zaid argumentou que, “como nomeada presidencial e funcionária confirmada pelo Senado, apenas o próprio presidente pode demiti-la”.

“Por esse motivo, rejeitamos a notificação recebida pela Dra. Monarez como juridicamente deficiente e ela continua como diretora do CDC. Notificámos o Conselho Jurídico da Casa Branca sobre a nossa posição”, justificou o advogado.

O impasse iniciou-se após as exigências de Kennedy Jr. e da sua vice-chefe de gabinete, Stefanie Spear, para que Monarez apoiasse as mudanças na política de vacinação contra a Covid-19 e demitisse altos funcionários do CDC, às quais a responsável recusou aceder.

Note-se que, desde que assumiu o cargo, Kennedy Jr. mudou radicalmente a abordagem do governo em relação à vacinação, tendo demitido e substituído todos os membros de um comité consultivo sobre vacinas, cancelado o financiamento para estudos sobre vacinas mRNA e implementado uma task-force para escrutinar o calendário de imunização infantil.

Entretanto, pelo menos outros quatro altos funcionários do CDC apresentaram a sua demissão, entre eles o diretor do Centro Nacional de Imunização e Doenças Respiratórias, Demetre Daskalakis, que criticou Kennedy Jr. por colocar em risco “a vida dos norte-americanos mais jovens e das grávidas”.

“Não consigo trabalhar num ambiente que trata o CDC como uma ferramenta para gerar políticas e materiais que não refletem a realidade científica e são concebidos para prejudicar, em vez de melhorar, a saúde pública. A recente alteração no calendário de imunização de adultos e crianças ameaça a vida dos norte-americanos mais jovens e das grávidas. As análises de dados que sustentaram esta decisão nunca foram partilhadas com o CDC, apesar dos meus respeitosos pedidos ao HHS e a outros líderes. Esta falta de envolvimento significativo foi ainda agravada por um documento de ‘perguntas frequentes’ redigido para apoiar a diretiva do secretário, que foi divulgado pelo HHS sem a contribuição de especialistas do CDC e que citava estudos que não sustentavam as conclusões atribuídas a esses autores”, escreveu, numa carta divulgada na rede social X (Twitter).

E complementou: “Não sei ao certo a quem o secretário está a dar ouvidos, mas certamente não é a nós. Organizações externas não verificadas e em conflito parecem ser as fontes que o HHS utiliza em detrimento da ciência de referência do CDC e de outras fontes conceituadas. Numa audiência, o secretário Kennedy disse que os norte-americanos não deveriam seguir os seus conselhos médicos. Pelo contrário, um secretário devidamente informado e curioso deveria ser uma fonte de informação sobre saúde para as pessoas que serve. Na situação atual, tenho de concordar com ele, que não deve ser considerado uma fonte de informação credível.”

A diretora médica do CDC, Debra Houry, também informou a sua equipa que “mudanças contínuas” a impedem de continuar no cargo.

“As vacinas salvam vidas - este é um facto científico indiscutível e bem estabelecido. Recentemente, o exagero dos riscos e o aumento da desinformação custaram vidas, como demonstrado pelo maior número de casos de sarampo nos Estados Unidos em 30 anos, e pelo ataque violento à nossa agência”, disse, referindo-se ao tiroteio perto da sede do CDC e da Universidade Emory, em Atlanta, levado a cabo por um homem que nutria ressentimentos em relação à vacina contra a Covid-19, que culpava pelos seus problemas de saúde.

Também Dan Jernigan, um funcionário de longa data que ajudou a supervisionar a resposta do CDC às doenças infecciosas, anunciou a sua demissão, assim como a diretora do Gabinete de Dados, Vigilância e Tecnologia de Saúde Pública, Jennifer Layden, de acordo com a ABC News.

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O secretário da Saúde norte-americano Robert F. Kennedy Jr. afirmou que o financiamento vai ser redirecionado para “plataformas de vacinas mais seguras e abrangentes, que permanecem eficazes mesmo com a mutação do vírus”.

Carolina Pereira Soares | 23:21 - 06/08/2025

Leia Também: Identificado atirador de Atlanta, que era "conhecido". E o agente morto?

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