Um soldado ucraniano de 33 anos, afirmou na terça-feira em entrevista ao canal Suspilne, ter rastejado durante cinco dias, com a garganta cortada, até ao seu exército, depois de ser torturado por soldados russos.
Foi há algumas semanas que Vladyslav contou ter sido capturado pelas forças moscovitas, durante um ataque da ofensiva russa na região de Dnipropetrovsk, no centro-leste ucraniano.
“A brigada perdeu o controlo de uma posição perto de Pokrovsk”, relatou o soldado, citado pelo Le Parisien, obrigado a escrever as respostas; incapaz de falar.
Vladyslav foi, por isso, chamado para apoiar a brigada no terreno, mas acabaram por cair todos nas mãos dos russos, que segundo o ucraniano, não tiveram misericórdia dos soldados de Kyiv.
“Os primeiros homens a serem capturados pelos serviços de inteligência” foram torturados e mutilados pelos moscovitas, que terão chegado a remover os genitais dos ucranianos.
Vladyslav, que ficou mais para trás na lista dos capturados, acabou por ter alguma sorte dentro do pesadelo que conta: os soldados russos não terão perdido muito tempo com ele e, depois de lhe cortarem a garganta, “deixaram-no para morrer”, com as mãos amarradas numa vala.
Enfraquecido, mas incapaz de desistir, o ucraniano encontrou forças e conseguiu libertar-se graças a uma “garrafa partida que lhe permitiu cortar a corda” que o amarrava.
Depois “rastejei durante cinco dias”, segundo as suas próprias palavras, até encontrar de novo o exército a que pertencia e ser levado, em estado crítico, para o hospital mais próximo.
Pode ver a entrevista (feita em ucraniano) na publicação abaixo. As imagens podem chocar os leitores mais sensíveis.
Foi a 18 de agosto que Vladyslav voltou à segurança.
Na unidade hospitalar onde esteve foi submetido a uma cirurgia, por uma equipa de médicos incrédula.
“Quando a garganta de uma pessoa é cortada, quando alguém sangra tanto, as probabilidades de sobrevivência são mínimas”, explicou um dos médicos envolvidos na mesma entrevista. “Ele aguentou firme até ao fim, mas, sabe, a diferença é que ele tinha a certeza de que tudo ia ficar bem.”
Vladyslav ainda não consegue falar devido aos danos na garganta, que na entrevista permanece enfaixada, e está, por enquanto, de cadeira de rodas. Mas sobreviveu.
Ucrânia reconheceu avanços em Dnipropetrovsk
A Ucrânia reconheceu na terça-feira, pela primeira vez, o avanço das tropas russas em Dnipropetrovsk, apesar de Moscovo já ter reivindicado avançados na região o mês passado.
Em declarações à agência France-Presse (AFP), o porta-voz do exército ucraniano para a região, Viktor Tregoubov, confirmou a entrada das tropas russas em Dnipropetrovsk onde "decorrem atualmente combates".
Kyiv tinha, até agora, negado qualquer tipo de avanço russo em Dnipropetrovsk.
A Rússia ocupa atualmente cerca de 20% do território da Ucrânia. Meses depois da invasão, Moscovo declarou a anexação das regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Zaporijia e Kherson, depois de ter invadido e anexado a Crimeia em 2014.
A Ucrânia e a generalidade da comunidade internacional não reconhecem a legitimidade das anexações.
Leia Também: Kyiv está "a trabalhar arduamente" para solução, diz enviado de Trump