A Mauritânia, um país predominantemente desértico da África Ocidental, situado na costa atlântica, tornou-se nos últimos anos um ponto de partida para muitos migrantes de todo o continente que tentam chegar à Europa por via marítima.
No seu relatório, a organização não-governamental (ONG) denuncia os acordos entre a União Europeia (UE) e Espanha com a Mauritânia "para externalizar o controlo dos fluxos migratórios", apesar das violações dos direitos humanos.
O relatório, baseado em centenas de testemunhos, documenta casos de tortura, violação, maus-tratos físicos, detenções arbitrárias, extorsão e expulsões sumárias e coletivas. Testemunhas entrevistadas acusam a polícia, a guarda costeira, o exército e a polícia militar mauritanas de serem os autores destes atos.
Dezenas de migrantes que passaram pelos centros de detenção mauritanos descreveram à HRW "condições e tratamento desumanos", como falta de alimentos, higiene deficiente e espancamentos por parte dos guardas.
As autoridades mauritanas empurraram os migrantes "de volta para locais remotos ao longo da fronteira com o Senegal e o Mali, onde a assistência é limitada, e para a região de Kayes, no Mali, onde a situação de segurança coloca as pessoas em risco", referiu o documento da HRW.
No início deste ano, uma campanha massiva de deportação de migrantes suscitou fortes críticas na África Ocidental, levando países como o Mali e o Senegal a manifestarem a sua indignação.
As autoridades mauritanas descreveram estas deportações como operações "de rotina" dirigidas a pessoas em situação irregular, sem fornecer números sobre a sua magnitude.
Recentemente, vários órgãos de comunicação social mauritanos estimaram o número em 28.000 deportações desde o início de 2025, embora tal não tenha sido confirmado pelas autoridades.
Milhares de migrantes perderam a vida nos últimos anos ao sair de África e tentar chegar à Europa através das ilhas Canárias (Espanha), a bordo de barcos frequentemente sobrelotados. Só em 2024, a ONG espanhola Caminando Fronteras levantou um total de 10.457 mortos ou desaparecidos no mar.
As Canárias são a principal porta de entrada de migrantes para Espanha, apesar de a rota marítima ser extremamente perigosa a partir da costa noroeste de África. De acordo com o Ministério do Interior espanhol, 46.843 migrantes chegaram ao arquipélago em 2024, um número muito superior ao recorde estabelecido em 2023 (39.910).
O ritmo abrandou significativamente nos últimos meses, com o número de chegadas às Canárias a cair 46% entre o primeiro semestre de 2025 e ao mesmo período de 2024, segundo o ministério espanhol.
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