Os ministros dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Reino Unido e França salientam numa carta às Nações Unidas que, "se o Irão não desejar chegar a uma solução diplomática [relativamente ao seu programa nuclear] até ao final de agosto de 2025, ou não aproveitar a oportunidade de uma prorrogação", estão "prontos para acionar o mecanismo" que permite restabelecer as sanções internacionais contra o Irão, segundo a carta, obtida pela agência France-Presse (AFP), confirmando uma informação do jornal Financial Times.
O chefe da diplomacia alemã, Johann Wadephul, e os homólogos francês, Jean-Noël Barrot, e britânico, David Lammy, afirmam estar "totalmente empenhados numa resolução diplomática da crise provocada pelo programa nuclear iraniano e continuarão as conversações com vista a chegar a uma solução negociada".
A carta, dirigida ao secretário-geral da ONU, António Guterres, e ao Conselho de Segurança, surge dois meses após os ataques israelitas e norte-americanos a instalações nucleares no Irão, que puseram fim às negociações iniciadas entre Teerão e Washington, por um lado, e às discussões com o E3 --- o grupo dos três países europeus ---, por outro.
Após esta guerra de 12 dias, o Irão suspendeu a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).
O ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araghchi, anunciou no último domingo que um diretor-geral adjunto da AIEA era esperado em Teerão para discutir um novo quadro de cooperação.
Também Araghchi enviou uma carta às Nações Unidas no mês passado, na qual afirmava que o E3 não tinha legitimidade para reativar o mecanismo de sanções.
Em resposta, os três ministros escreveram agora esta carta, enviada à ONU na terça-feira, considerando "infundadas" as afirmações do homólogo iraniano.
Os três países, na qualidade de participantes do tratado de 2015 conhecido pela sigla JCPOA, "teriam claramente, e sem ambiguidade, o justificativo jurídico para usar as disposições pertinentes da resolução 2231 (2015) do Conselho de Segurança das Nações Unidas para acionar o mecanismo", argumentam na missiva.
A França, o Reino Unido e a Alemanha são, juntamente com os Estados Unidos, China e a Rússia, membros de um acordo nuclear celebrado com o Irão em 2015, que previa restrições importantes ao programa nuclear iraniano, em troca de um levantamento gradual das sanções da ONU.
Os Estados Unidos retiraram-se unilateralmente deste texto em 2018 e reimpuseram as suas sanções, mas os países do E3 mantiveram o compromisso com o acordo e afirmaram querer continuar as trocas comerciais com o Irão.
As sanções da ONU e da União Europeia não foram, em consequência, restabelecidas.
Na carta enviada à ONU, os ministros incluem uma lista "não exaustiva" dos compromissos nucleares assumidos no âmbito do acordo assinado em 2015 que "o Irão não respeitou", em particular, acumulando um stock total de urânio enriquecido "mais de 40 vezes" superior ao limite fixado pelo tratado.
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