Segundo fonte da Força Local, paramilitares que apoiam o combate aos grupos de rebeldes que atuam em Cabo Delgado desde 2017, os corpos, visivelmente baleados, foram encontrados na terça-feira, nas matas da localidade, numa zona de produção de mandioca, milho e gergelim, a cerca de 30 quilómetros da vila sede de Chiúre, sul da província.
"São corpos de maiores de idade, acharam e comunicaram as autoridades do distrito, mas ninguém sabe quem são porque o estado dos corpos não é dos melhores", relatou a mesma fonte, a partir de Chiúre.
Os corpos foram encontrados por um grupo de militares que patrulhava a região, na sequência da atual onda de ataques no sul da província de Cabo Delgado. No terreno, disse ainda, estão forças compostas por militares moçambicanos e do Ruanda.
"Tanto em Chiúre Velho, como em Ocua temos força, a ideia é controlar o movimento dos rebeldes", disse ainda a fonte da Força Local, acrescentando que em alguns zonas a população está a retornar às aldeias.
Mais de 57 mil pessoas foram deslocadas desde 20 de julho em Cabo Delgado após o recrudescimento de ataques de extremistas, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
De acordo com o mais recente relatório da OIM, com dados de 20 de julho a 03 de agosto, divulgado esta semana, "a escalada de ataques e o crescente medo de violência" por parte de grupos armados não estatais nos distritos de Muidumbe, Ancuabe e Chiúre levaram ao deslocamento de 57.034 pessoas, num total de 13.343 famílias.
Incluem-se 490 grávidas, 1.077 idosos, 191 pessoas com problemas de mobilidade e 126 crianças separadas dos pais, que chegam a andar mais de 50 quilómetros, pela mata, noite e dia, sobretudo em direção à sede do distrito de Chiúre, no sul da província de Cabo Delgado.
Trata-se do maior pico de deslocados por ataques, com destino a Chiúre sede em cerca de um ano.
A OIM acrescenta que os agentes no terreno apontam que "a alimentação é a necessidade humanitária mais urgente", seguida de abrigo e itens não alimentares.
Deste total de deslocados, 22.939 foram abrigados em Namisir e 27.558 em Micone, em ambos os casos em duas escolas da vila de Chiúre.
Elementos associados ao grupo extremista Estado Islâmico reivindicaram na segunda-feira novos ataques nos distritos de Chiúre e Muidumbe, com pelo menos cinco pessoas decapitadas, num momento crescente de violência naquela província moçambicana.
Na reivindicação, feita através dos canais de propaganda do Estado Islâmico, refere-se que numa aldeia de Chiúre foram capturadas e decapitadas quatro pessoas, na sexta-feira. No domingo, outra pessoa foi capturada e morta em Muidumbe, igualmente por elementos alegadamente pertencentes ao grupo Ahlu-Sunnah wal Jama`a (ASWJ).
Vários distritos de Cabo Delgado, sobretudo Chiúre, estão a registar uma crescente atividade por parte de elementos destes grupos nos últimos dias. Na semana passada, extremistas reivindicarem também a decapitação, em locais diferentes, de pelos menos três cristãos moçambicanos.
O ministro da Defesa Nacional admitiu, na quinta-feira, preocupação com a onda de novos ataques em Cabo Delgado, adiantando que as forças de defesa estão no terreno a perseguir os rebeldes armados.
"Como força de segurança não estamos satisfeitos com o estado atual, tendo em conta que os terroristas nos últimos dias tiveram acesso às zonas mais distantes do centro de gravidade que nós assinalámos", disse o ministro Cristóvão Chume, aos jornalistas.
A província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma insurgência armada que já provocou mais de um milhão de deslocados.
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