Um juiz federal da Florida, nos Estados Unidos, negou, esta quarta-feira, um pedido da administração Trump para divulgar as transcrições do grande júri no âmbito da investigação sobre o caso Jeffrey Epstein, depois de o governo dos EUA ter solicitado a sua revelação.
"O Tribunal está de mãos atadas", lê-se na ordem emitida pela juíza Distrital Robin L. Rosenberg.
A lei, referiu a juíza, apenas prevê a divulgação de depoimentos do júri em situações específicas, nenhuma das quais se aplica a este caso.
O governo solicitou ainda que, caso a juíza não pudesse pronunciar-se sobre o assunto, o pedido fosse transferido para um tribunal federal em Nova Iorque, onde já decorreram outros julgamentos relacionados, como o de Ghislaine Maxwell.
Embora a juíza tenha reconhecido o interesse público no caso, enfatizou que só uma decisão do Supremo Tribunal poderia permitir a divulgação das transcrições do grande júri e rejeitou o pedido de transferência.
No sistema judicial norte-americano, compete a um grande júri determinar se há motivos suficientes para considerar que um crime foi cometido e que um determinado indivíduo deve ser formalmente acusado (indiciado).
A resposta surge depois de, na semana passada, o Departamento de Justiça ter feito o pedido, alegando no mesmo que havia um "amplo interesse público" e que a revelação estava relacionada com um "amplo interesse público."
Note-se que o pedido do Departamento da Justiça fez este pedido no sábado, um dia depois de Trump ter solicitado que o fizessem. Nos últimos dias, a administração Trump tem estado sob críticas de apoiantes do presidente desde que o mesmo departamento anunciou, anteriormente, que não divulgaria mais nenhuma prova em sua posse relativa à investigação de Epstein.
Mas não é apenas Trump que tem sofrido esta pressão, já que a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, também tem sido alvo desta pressão; é que Bondi tinha prometido divulgar mais pormenores sobre o caso há alguns meses, tendo depois voltado atrás. O início deste 'passo atrás' foi dado após o FBI e o Departamento de Justiça emitirem um comunicado conjunto, a 6 de julho, apontando que não existia a 'lista Epstein', que, alegadamente, teria nomes de cúmplices e clientes da rede de tráfico sexual que o magnata comandava.
Epstein foi preso e acusado pela justiça federal de Nova Iorque em 2019, por tráfico sexual, por indicação de um grande júri federal, que concluiu que havia causa provável para emitir acusações, descrevendo as acusações específicas de tráfico sexual e conspiração para cometer tráfico sexual.
O milionário aguardava julgamento por estas acusações federais quando se suicidou em agosto de 2019.
Após a morte de Epstein, a sua parceira Ghislaine Maxwell foi indiciada por um grande júri federal por acusações relacionadas com tráfico sexual e conspiração, decorrentes do seu papel em facilitar os abusos de Epstein, e foi posteriormente condenada em 2021.
O caso Epstein tem sido marcado pelo sigilo em torno dos materiais do grande júri e outros arquivos de investigação, gerando pressão pública e política para a divulgação de mais informação sobre o caso.
O pedido do presidente para divulgar as transcrições do grande júri surgiu também depois de o Wall Street Journal (WSJ) ter noticiado uma carta sexualmente sugestiva que afirma estar assinada por Trump e incluída num álbum de 2003 para o 50.º aniversário de Epstein.
Trump negou ter escrito a carta, chamando-a de "falsa, maliciosa e difamatória" e processou o WSJ, assim como os jornalistas que escreveram o artigo.
[Notícia atualizada às 23h57]
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