Zelensky promulga lei que retira autonomia a agências anticorrupção

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, promulgou hoje uma lei controversa que retira a autonomia às agências anticorrupção e causou manifestações no país e preocupações na União Europeia.  

Ukraine Recovery Conference in Rome

© Lusa

Lusa
22/07/2025 22:09 ‧ ontem por Lusa

Mundo

Ucrânia

"Regressou com a assinatura do Presidente ucraniano", informou o site do parlamento ucraniano ao final da noite em referência ao projeto de lei, enquanto decorriam manifestações nas ruas de Kiev contra a promulgação.

 

Um alto funcionário ucraniano confirmou à AFP que Zelensky tinha assinado a lei, que subordina as atividades do Gabinete Nacional Anticorrupção (NABU) e do Gabinete Especializado Anticorrupção (SAPO) ao procurador-geral, que, por sua vez, está sob a tutela do Presidente.

Segundo a agência AP, milhares de pessoas manifestaram-se contra a lei hoje em Kiev e noutras cidades da Ucrânia, na primeira grande manifestação contra o governo em mais de três anos de guerra desde a invasão russa em 2022.

Os deputados ucranianos aprovaram hoje a lei que elimina a independência das duas instituições responsáveis pelo combate à corrupção no país, na sequência da detenção de um ex-deputado e vários funcionários de uma dessas organizações.

O parlamento autorizou a subordinação das atividades por 263 votos contra 13 (e 13 abstenções).

As agências foram envolvidas numa alegada fuga de documentos secretos para os serviços de segurança russos, ação atribuída a um ex-deputado, Fedor Khristenko, que já foi acusado de alta traição.

Khristenko foi acusado de tentar influenciar o NABU a partir do estrangeiro através das suas ligações a alguns dos funcionários do gabinete, alguns dos quais já foram detidos, anunciou o Ministério Público.

Nas últimas horas, foram também realizadas buscas nas casas de vários familiares de Khristenko, onde foram encontrados documentos relacionados com investigações secretas conduzidas pelo NABU.

O Ministério Público sustenta que Khristenko foi recrutado pelo Serviço Federal de Segurança durante o Governo do ex-presidente Viktor Yanukovych e, desde então, tem passado informações confidenciais à Rússia e ajudado suspeitos de corrupção a fugir da Ucrânia.

Com a nova lei, o procurador-geral passa a ter acesso a todas as investigações do NABU e pode emitir novas instruções, encerrar casos e assinar pessoalmente acusações contra altos funcionários.

A lei aprovada remove também as funções do chefe do SAPO, um órgão independente da Procuradoria-geral que supervisiona os casos investigados pelo NABU --- principalmente contra altos funcionários do Governo --- que são depois encaminhados para o tribunal.

O responsável do NABU, Semen Krivonos, apelou a Zelensky para que não assinasse esta lei, alertando que a medida põe em risco a transparência e os compromissos anticorrupção com organizações como a UE.

A Comissão Europeia manifestou hoje "séria preocupação" com a lei, referindo que estas são "cruciais" para a adesão da Ucrânia ao bloco.

A Comissária Europeia para o Alargamento, Marta Kos, manifestou em comunicado após a votação na Rada Ucraniana que "o desmantelamento de salvaguardas essenciais que protegem a independência do Gabinete Nacional Anticorrupção da Ucrânia é um sério retrocesso".

A comissária eslovena enfatizou que ter agências independentes é "essencial" no caminho da adesão à UE e que "o Estado de direito continua no centro das negociações de adesão".

Também hoje, em conferência de imprensa, o porta-voz de Bruxelas para o Alargamento, Guillaume Mercier, alertou para a situação das instituições anticorrupção na Ucrânia, sublinhando que são "cruciais" para o programa de reformas que aproximará o país da UE e que por isso devem operar "de forma independente" para combater a corrupção e manter a confiança dos cidadãos.

"A UE presta assistência financeira significativa à Ucrânia, condicionada ao progresso, à transparência, à reforma judicial e à governação democrática", insistiu Mercier.

Por conseguinte, reiterou que a entrada de Kiev na UE dependerá em grande parte da sua capacidade de combater a corrupção e de demonstrar força institucional, sublinhando que a UE irá monitorizar a situação e apoiar a Ucrânia nestes esforços.

[Notícia atualizada às 22h20]

Leia Também: Ucrânia propôs nova ronda de negociações com a Rússia na próxima semana

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas