Irmão de luso-belga detido na RCA pede mais pressão de Portugal

O luso-belga Joseph Figueira Martin está detido há 420 dias, sem acusação, na República Centro-Africana (RCA).

Martin Joseph Figueira

© Reprodução/Martin Joseph Figueira

Lusa
17/07/2025 12:12 ‧ ontem por Lusa

País

Joseph Figueira Martin

O irmão do luso-belga Joseph Figueira Martin, detido há 420 dias, sem acusação, na República Centro-Africana (RCA), disse à Lusa que Portugal deveria sancionar os responsáveis e reavaliar os acordos bilaterais que mantém com aquele país da África Central.

 

"Amanhã [sexta-feira] vão completar 420 dias de detenção arbitrária do meu irmão e no dia 10 de julho foi adotada uma resolução de emergência no Parlamento Europeu que pede a libertação imediata e incondicional do meu irmão e pede também que sanções direcionadas para indivíduos da República Centro-Africana sejam adotadas também, sejam colocadas em prática para que o meu irmão seja libertado", salientou Georges Figueira Martin.

"Então eu acredito que nesse momento Portugal deveria seguir esse pedido do Parlamento Europeu, da mesma maneira que a Bélgica também poderia muito bem iniciar com uma série de sanções que podem ir de diversas formas, começando com coisas direcionadas a indivíduos e depois podem caminhar para revisitar acordos bilaterais entre os países, revisitar também financiamentos que estão acontecendo nesse momento", acrescenta.

Georges Figueira Martin sublinha que o seu irmão, de 42 anos, foi detido arbitrariamente pelos mercenários da empresa russa Wagner, agora designada Afrika Corps, torturado e entregue às autoridades centro-africanas, que o mantêm detido sem acusação.

A agência Lusa contactou o advogado de Joseph Figueira Martin, Nicolas Tiangaye, antigo primeiro-ministro da RCA entre fevereiro de 2013 e janeiro de 2014, que confirmou que o luso-belga continua detido e sem que se saiba de que é acusado.

Georges Figueira Martin reitera que "existem uma série de alavancas de ações possíveis que o Governo de Portugal deveria pôr em prática" na sequência da resolução aprovada pelos eurodeputados.

No passado dia 10, o Parlamento Europeu condenou a RCA pela violação dos direitos humanos de Joseph Figueira Martin.

A resolução, de que foi autor o eurodeputado Francisco Assis (PS) foi aprovada por 617 votos a favor, quatro votos contra e 18 abstenções.

No debate foi explicado que o luso-belga, que colaborava com a organização não-governamental (ONG) norte-americana Health International 360, foi detido e torturado por mercenários do grupo Wagner e enfrenta problemas de saúde física e mental.

"É uma situação extremamente injusta (...) Portugal e Bélgica, por ele ser nacional desses dois países, e a Comissão Europeia também, e o Conselho Europeu, têm todas as munições agora para poder colocar em prática esse pedido do Parlamento", frisa o irmão do luso-belga.

"Com as visitas dos cônsules honorários de Portugal e da Bélgica em Bangui, a gente tem tido um acompanhamento da saúde do meu irmão e podemos também enviar mensagens para ele. Agora, sobre contactos com médicos, foram quatro visitas de um médico da Embaixada da França, que verificou que o estado de saúde dele está muito fragilizado" também devido às "condições desumanas" da detenção, afirma.

Georges Figueira Martin acredita que a detenção do irmão pelos mercenários se deveu ao trabalho que desenvolve há mais um ano na RCA, e noutros países da região central do continente.

"Eu acredito que, inicialmente, existe, sim, provavelmente, um interesse por parte dos russos para qualquer estrangeiro que venha pisar na República Centro-Africana. O meu irmão, trabalhando por uma ONG americana, acredito que, sim, deve ter levantado suspeita (...) Ele tinha basicamente três objetivos para essa viagem na República Centro-Africana, que era a redução da pobreza, aumento das oportunidades económicas e também redução de violência fundada sobre género".

O trabalho de Joseph Figueira Martin incluía a identificação das pessoas que cometeram esses atrocidades.

"Acredito que o facto de ele estar fazendo, então, buscas para levantar dados para essa ONG, fez com que ele se tornou mais, num grau acima, um alvo para essas forças russas presentes na RCA", acrescenta.

Georges Figueira Martin salienta ainda que "existe uma necessidade por parte dos russos de construir uma narrativa de interferência estrangeira no país, para eles também poderem se impor com mais facilidade".

Joseph Figueira Martin trabalhou antes noutra ONG, a International Crisis Group (ICG), em Bruxelas, durante oito anos, e investigou o pastoralismo (modo de vida ou organização social baseado na criação de gado e na exploração de pastagens) e a transumância nos vizinhos Chade e Sudão.

Depois do ICG, o luso-belga trabalhou para outra ONG, a Invisible Children, intervindo na libertação de crianças soldados do grupo armado Exército de Resistência do Senhor (LRA, na sigla em inglês), fundado por Joseph Kony no Uganda e que mantém atividade armada naquele país e na República Democrática do Congo.

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