A conferência de imprensa, promovida hoje pelo denominado movimento social contra o decreto que aprova o reajuste do preço do combustível, plataforma que congrega várias organizações cívicas, foi antecedida de um clima de tensão e indignação por parte dos ativistas.
Enquanto a organização criava as condições no Largo Cesário Verde, bairro Vila Alice, em Luanda, para acolher os jornalistas, e já com um dístico afixado no local, anunciando as razões da conferência de imprensa, efetivos da polícia surgiram exigindo a remoção do material publicitário.
A presença da polícia no local gerou tensão e repúdio de vários ativistas, que, com os seus telemóveis, faziam 'lives' pelas redes sociais denunciando a "postura intimidatória" dos agentes da corporação, como constatou a Lusa no local.
"Estamos aqui com todos os jovens para esta conferência de imprensa e estamos com um problema, a polícia já veio para tentar impedir que se faça uma conferência de imprensa, os jovens já receberam uma carta do Governo a aceitar a marcha e a polícia está a vir impedir, temos que parar com isso", denunciava a ativista Laura Macedo nas redes sociais.
Laura Macedo considerou "uma vergonha" a atitude da polícia, que forçou mesmo os ativistas a removerem o dístico do local, em meio de vários lamentos e críticas destes.
O ativista Gilson da Silva Moreira "Tanaice Neutro", também numa 'live', a partir do local, repudiou a presença da polícia e criticou o Presidente angolano, João Lourenço, que, no seu entender "é insensível" ao povo.
"Não estou mais a entender o que é que o [Presidente da República] João Lourenço quer com o povo (...), essa polícia que só cumpre ordens superiores também está a passar mal, porque também circulam de táxi, daqui não vamos sair, porque não somos bandidos", dizia o ativista.
Quase 40 minutos depois da hora marcada, e apesar das tentativas de impedimento pela polícia, os ativistas voltaram a afixar o dístico com dizeres: "Combustível sobe, a vida para! O povo não aguenta mais! Estamos na rua contra o aumento abusivo do combustível e o custo de vida insustentável".
A tarifa dos táxis coletivos (vulgo "candongueiros") passou a ser de 300 kwanzas por viagem (0,28 euros) e a dos autocarros urbanos sobe para 200 kwanzas por viagem (0,19 euros), desde segunda-feira, uma medida, que surge na sequência do aumento do preço do gasóleo, que passou de 300 para 400 kwanzas por litro (0,28 para 0,37 euros) a partir de 04 de julho.
O ativista Adilson Manuel, em conferência de imprensa, disse que a manifestação, agendada para sábado, deve partir do largo do Mercado de São Paulo até ao Largo da Maianga, a 200 metros da sede do parlamento, porque houve "resposta positiva" do Governo Provincial de Luanda (GPL).
Numa reunião realizada na quinta-feira com o Comando Provincial da Polícia Nacional, referiu o ativista, a polícia, "no atropelo das regras administrativas", afirmou que a concentração para a marcha não deve ser em frente ao Mercado de São Paulo, mas no Largo do Cemitério da Santa Ana.
"Nós, o movimento, entendemos que devemos cumprir a lei e marchar nos termos do nosso itinerário sem mudar a rota", assegurou o ativista, convidando a população a juntar-se à marcha "pacífica e ordeira" e a polícia a garantir a segurança dos manifestantes.
O GPL, em ofício assinado pelo gabinete do governador, partilhado hoje pelos organizadores da marcha, diz que "não há inconveniente na realização da marcha" e orienta os ativistas a contactarem o Comando da Polícia para "concertação das medidas de segurança e alinhamento quanto ao itinerário".
A Lusa contactou o porta-voz da polícia em Luanda, mas não obteve resposta até ao momento.
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