O relato foi feito ao Conselho de Segurança da ONU pela chefe da Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL), Hanna Tetteh, que alertou ainda para as evidências emergentes de graves violações de direitos humanos após os confrontos em maio passado.
As evidências apontam para "execuções extrajudiciais, tortura e desaparecimentos forçados, supostamente cometidas por agentes de segurança do Estado, nomeadamente o Aparelho de Apoio à Estabilidade (SSA, na sigla em inglês)", disse, referindo-se a este influente grupo armado com base em Abu Salim.
A presença de restos carbonizados e corpos não identificados em morgues em Abu Salim aponta para a escala e a gravidade desses abusos, sublinhou a líder da Missão da ONU, defendendo a necessidade urgente do acesso independente a todos os centros de detenção.
Além das comissões líbias já anunciadas, "mecanismos de investigação independentes são também importantes para ajudar a garantir a verdade, a justiça e a responsabilização", reforçou, alertando para o receio sentido por muitos líbios de que os confrontos armados sejam retomados.
O fluxo contínuo de armas para Trípoli levou à proliferação de armas pesadas e depósitos de armas em áreas densamente povoadas, representando sérios riscos para a população civil.
Há também uma preocupação crescente de que mais instabilidade atraia agentes de segurança do leste.
"É evidente que estes confrontos e os riscos que representam para o país sublinham a necessidade de uma reforma do setor da segurança, bem como instituições militares e de segurança unificadas e profissionais", disse Hanna Tetteh.
"A UNSMIL apela a todos os atores políticos e de segurança para que se abstenham de retórica e ações provocatórias que só servem para aprofundar a falta de confiança e minar todos os esforços de desescalada que estão a ser feitos para sustentar a frágil trégua. Este não é o momento para atitudes temerárias e ações unilaterais. É urgente que a cabeça fria prevaleça", acrescentou.
Hanna Tetteh disse ao Conselho de Segurança que pretende apresentar, em agosto, um "roteiro politicamente pragmático e com um prazo determinado" em direção a eleições gerais e instituições unificadas, refletindo a reivindicação do povo líbio por mudanças tangíveis com o objetivo de pôr fim aos processos de transição.
Os confrontos no coração da capital líbia começaram em maio, após a morte do líder do grupo armado SSA, Abdelghani "Gheniwa" el-Kikli, cujo poder se tinha tornado uma ameaça para o chefe do governo de Tripoli, segundo analistas.
A Líbia, que possui as reservas de petróleo mais importantes no continente africano, é um país imerso no caos político e de segurança desde a queda do regime e morte de Muammar Kadhafi em 2011.
O país é liderado por dois governos rivais: um em Tripoli, chefiado por Dbeibah, e outro no leste, controlado pelo marechal Khalifa Haftar.
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