Que impacto terá a ofensiva israelita no programa nuclear do Irão?

A dimensão sem precedentes do ataque israelita para impedir o Irão de obter uma bomba atómica foi um golpe para o programa nuclear iraniano, embora o impacto ainda não seja definitivo, segundo especialistas.

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Lusa
16/06/2025 13:57 ‧ há 5 horas por Lusa

Mundo

Médio Oriente

Eis uma atualização da situação, com base num trabalho da agência de notícias France-Presse (AFP) sobre a ofensiva de Israel contra o Irão, iniciada na sexta-feira, 13 de junho:

 

Qual é a extensão dos danos?

O centro-piloto de enriquecimento de urânio de Natanz, no centro do país, foi destruído na parte à superfície, assim como as infraestruturas elétricas, segundo a Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), citando informações das autoridades iranianas.

Mas "não há qualquer indicação de que tenha havido um ataque físico ao pavilhão subterrâneo" que alberga a central principal, declarou o organismo da ONU na segunda-feira.

No entanto, "o corte de energia pode ter danificado" os milhares de centrifugadores aí instalados.

Os danos, confirmados por imagens de satélite, são significativos, de acordo com um relatório do Instituto para a Ciência e Segurança Internacional (ISIS), uma organização com sede nos Estados Unidos especializada em proliferação nuclear.

A outra instalação de enriquecimento, Fordo, a sul da capital iraniana, foi igualmente atingida, mas "não foram registados danos", segundo a AIEA.

Na central nuclear de Isfahan (centro do Irão), foram atingidos quatro edifícios: o laboratório químico central, uma instalação de conversão de urânio, a instalação de fabrico de combustível para o reator de investigação de Teerão e uma instalação em construção.

Pensa-se que o complexo contém grandes reservas de urânio altamente enriquecido.

O programa pode ser destruído?

"Israel pode danificar o programa nuclear iraniano, mas é pouco provável que o possa destruir", disse à AFP Ali Vaez, investigador do International Crisis Group, um grupo de reflexão norte-americano.

O país não dispõe das bombas potentes necessárias "para aniquilar as instalações fortificadas de Natanz e Fordo", que estão enterradas a grande profundidade.

Precisaria, para isso, de "assistência militar norte-americana", confirmou a perita da Associação de Controlo de Armas Kelsey Davenport.

Além disso, os conhecimentos adquiridos não podem ser aniquilados, acrescentou, mesmo que nove cientistas nucleares tenham sido mortos nos ataques.

O que aconteceu às reservas de urânio enriquecido?

Nesta altura, é impossível saber.

"Se o Irão conseguir transferir uma parte desse urânio para instalações secretas, Israel terá perdido o jogo", disse Vaez à AFP.

Quais são os riscos para a população?

A agência nuclear da ONU não observou qualquer aumento dos níveis de radiação nas imediações dos vários locais afetados.

"Há muito pouco risco de que os ataques às instalações de enriquecimento de urânio conduzam a libertações radioativas perigosas", disse Davenport.

Já um ataque à central nuclear de Bushehr, no sul do Irão, que foi, para já, poupada, poderá ter "consequências graves para a saúde e o ambiente".

As instalações nucleares "nunca devem ser atacadas, seja qual for o contexto ou as circunstâncias, pois isso poderia prejudicar a população e o ambiente", insistiu o chefe da AIEA, o argentino Rafael Grossi.

O Irão está realmente próximo da bomba atómica?

Após a retirada unilateral dos Estados Unidos, em 2018, do acordo nuclear internacional assinado três anos antes, o Irão libertou-se gradualmente de certas obrigações e acelerou o enriquecimento de urânio muito para além do limite fixado em 3,67%.

Em meados de maio, o país dispunha de 408,6 kg de urânio enriquecido a 60%.

Se este material fosse enriquecido a 90%, o limiar necessário para conceber uma bomba atómica, seria possível ao Irão fabricar mais de nove bombas deste tipo.

O Irão é o único país do mundo sem armas nucleares a produzir este material, segundo a AIEA, que também lamenta a falta de cooperação de Teerão.

No entanto, no relatório mais recente, a AIEA disse que não tinha qualquer "indicação credível de um programa nuclear estruturado" destinado a dotar o Irão de armas nucleares, como poderá ter acontecido no passado.

Teerão nega ter tais ambições e defende o direito ao uso do nuclear para produção de energia.

O que pode acontecer?

"Até agora, os custos da militarização têm superado os benefícios. Mas esse cálculo pode mudar nas próximas semanas", alertou Kelsey Davenport.

"Os ataques israelitas fizeram o Irão recuar tecnicamente, mas politicamente aproximam-no das armas nucleares", disse a perita.

Especialmente, porque existe agora "um risco real de desvio de urânio enriquecido".

Trata-se de uma operação que "pode passar despercebida durante semanas", uma vez que os atuais ataques estão a impedir o acesso dos inspetores da AIEA no terreno às instalações, alertou.

Leia Também: Paquistão encerra fronteira com Irão, "mas o comércio continua"

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