Roterdão investigará papel do maior porto da Europa na guerra em Gaza

A câmara de Roterdão investigará o papel do seu porto, o maior da Europa, nas violações israelitas dos direitos humanos em Gaza, após atracar um navio transportando peças de caças F-35 de Israel para os Estados Unidos.

Roterdão Holanda

© Getty Images

Lusa
06/06/2025 20:20 ‧ ontem por Lusa

Mundo

Médio Oriente

A assembleia municipal da cidade neerlandesa aprovou hoje uma moção apresentada por partidos de esquerda que exige que se investigue o papel que o Porto de Roterdão desempenha na cadeia de abastecimento militar que poderá estar a contribuir para a intensificação da ofensiva israelita na Faixa de Gaza e para outras possíveis violações dos direitos humanos, em pleno debate ético e político sobre se se deve permitir o trânsito deste tipo de mercadorias pelo porto.

 

Em maio, chegou ao porto um navio de carga conhecido como Izmir (Esmirna), da companhia marítima Maersk, o que mobilizou um grupo de ativistas e manifestantes a protestar, denunciando que o navio transportava peças de caças F-35, que estão a ser usados para bombardear o enclave palestiniano, algo que posteriormente foi confirmado pelo vereador Robert Simons, segundo a emissora regional Rijnmond.

"O Izmir vinha de Israel rumo aos Estados Unidos com vários produtos, incluindo peças de aviões utilizadas no programa internacional do F-35, no qual os Países Baixos participam", declarou Simons.

Na passada quarta-feira, durante uma manifestação pacífica que exigia um embargo de armas a Israel e maior transparência quanto ao transporte de carga militar que passa pelo porto, a polícia deteve mais de 90 pessoas.

Não obstante, a câmara municipal não pode impedir a atracagem de barcos por causa da sua carga ou destino, nem tem autoridade para inspecionar a carga, uma possibilidade que só as autoridades alfandegárias têm.

Os Países Baixos têm uma proibição de exportação direta de componentes de F-35 para Israel, por uma ordem judicial, devido ao possível uso desses bens em violações dos direitos humanos na Faixa de Gaza.

Embora tecnicamente a proibição não tenha sido violada no caso do navio Izmir, porque as peças não foram exportadas diretamente do território neerlandês, os autores da moção questionam se é aceitável que Roterdão facilite esse tipo de transporte de Israel para os Estados Unidos.

Israel declarou a 07 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o movimento islamita palestiniano Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis, e sequestrando 251.

A guerra naquele território palestiniano fez, até agora, quase 55.000 mortos, na maioria civis, e pelo menos 125.000 feridos, além de cerca de 11.000 desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.

A situação da população daquele enclave devastado pelos bombardeamentos e ofensivas terrestres israelitas agravou-se mais ainda pelo facto de a partir de 02 de março, e durante quase três meses, Israel ter impedido a entrada em Gaza de alimentos, água, medicamentos e combustível.

Alguns mantimentos estão agora a entrar a conta-gotas e a ser distribuídos em pontos considerados "seguros" pelo Exército, que já várias vezes abriu fogo sobre civis palestinianos que tentavam obter comida, fazendo centenas de vítimas, segundo os relatos das autoridades locais e de organizações internacionais.

A 30 de maio, o Departamento das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) considerou que Gaza é atualmente o lugar mais faminto do mundo, onde "100% da população corre o risco de morrer de fome".

Há muito que a ONU declarou a Faixa de Gaza como estando mergulhada numa grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica", a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.

Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio naquele território palestiniano e de estar a utilizar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.

Após um cessar-fogo de dois meses, o Exército israelita retomou a ofensiva na Faixa de Gaza a 18 de março e apoderou-se de vastas áreas do território, tendo o Governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciado, no início de maio, um plano para "conquistar" Gaza, que Israel ocupou entre 1967 e 2005.

Leia Também: Costa falou com Meloni sobre defesa, conflitos, segurança e migrações

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