A manifestação foi convocada pelo presidente do Partido Popular (PP, conservador), Alberto Núñez Feijóo, contra o Governo "rodeado de corrupção" do primeiro-ministro, Pedro Sánchez.
A convocatória, no final de maio, coincidiu com a divulgação, por meios de comunicação social, de áudios e vídeos em que uma militante do Partido Socialista (PSOE), Leire Díez, fala com empresários para pedir informações comprometedoras sobre um procurador do Ministério Público e dirigentes da unidade de investigação policial da Guarda Civil (UCO) que têm em mãos casos de alegada corrupção de pessoas próximas de Sánchez e do executivo.
Nas gravações, Leire Díez sugere que as informações que procurava são do interesse da direção do PSOE e promete ajudar os empresários e ex-membros da Guarda Civil com os processos que eles próprios enfrentam na justiça, através de contactos no Ministério Público e outras instâncias.
O PSOE abriu uma investigação interna a Leire Diez e tanto o partido como o Governo negam que atue a pedido ou em coordenação com a direção socialista ou com o executivo.
A própria, que tem trabalho na área da comunicação empresarial e institucional, garantiu já por diversas vezes que agiu por iniciativa própria, por estar a fazer uma "investigação jornalística pura e dura" e querer escrever um livro, e negou qualquer relação com a direção do PSOE neste momento.
Feijóo disse que os espanhóis deveriam "ter a palavra", mas "como não o podem fazer nas urnas, porque Sánchez continua a negar-se a convocar eleições gerais, poderão fazê-lo na rua".
O PP conseguiu em 2023 e 2024 mobilizar centenas de milhar de pessoas em manifestações contra o Governo, convocadas por causa da amnistia para independentistas catalães que Sánchez negociou com partidos da Catalunha para conseguir ser reconduzido primeiro-ministro.
A essas manifestações juntou-se o terceiro maior partido no parlamento, o Vox, de extrema-direita, assim como os antigos líderes do Governo e do PP José Maria Aznar e Mariano Rajoy, que já anunciaram que voltam a sair à rua este domingo.
Já o Vox revelou que não vai ao protesto e considerou que Feijóo deveria antes avançar com uma moção de censura ao Governo.
Sánchez, primeiro-ministro desde 2018, voltou a ser eleito para o cargo pelo parlamento espanhol em novembro de 2023, por uma 'geringonça' de oito partidos.
Desde então, pessoas próximas do primeiro-ministro, como a mulher ou o irmão, e antigos membros do Governo e da direção do PSOE foram envolvidos em processos judiciais por suspeitas de corrupção.
A polémica mais recente, da militante do PSOE Leire Díez, tem desencadeado reações e apelos a Sánchez que vão para além da oposição de direita.
Dirigentes do PSOE e do Somar, o partido de esquerda que está na coligação de Governo com os socialistas, consideraram grave o caso Leire Díez e pediram "contundência" ao partido na resposta.
O presidente do governo regional de Castela-La Mancha, o socialista Emiliano García Page, pediu mesmo para o partido avançar com ações legais contra Leire Díez, para afastar qualquer suspeita em relação ao PSOE, e a convocatória de eleições.
A ministra do Trabalho e dirigente do Somar, Yolanda Díaz, pediu "máxima contundência" a Sánchez e ao PSOE perante factos que considerou serem "de extrema gravidade".
Outros partidos da 'geringonça' parlamentar pediram ao primeiro-ministro para ir ao parlamento dar explicações.
Pedro Sánchez não se pronunciou até agora sobre este caso.
A manifestação de domingo é a sexta convocada pelo PP desde que Feijóo foi eleito líder do partido, em abril de 2022, num congresso extraordinário.
O partido voltará a fazer um congresso extraordinário em 5 e 6 de julho, por decisão de Feijóo, que pretende "reativar" o PP e preparar o início de um novo ciclo político em Espanha.
Para o presidente do PP, o Governo está já "em contagem decrescente", devido aos casos de corrupção e por viver um bloqueio no parlamento, onde não consegue aprovar leis como o Orçamento do Estado.
Feijóo foi eleito líder do PP em 2022 e venceu as últimas legislativas nacionais, em julho de 2023, mas não chegou a primeiro-ministro de Espanha por não ter conseguido reunir uma maioria absoluta no parlamento que aprovasse a sua eleição para o cargo.
Desde que Feijóo está à frente do PP, o partido venceu também as eleições autonómicas e municipais de maio de 2023, as europeias de 2024 e as regionais na Galiza do ano passado.
Além de ser o maior partido no parlamento de Espanha, o PP está à frente dos governos autonómicos de 13 das 19 regiões e cidades autónomas do país.
Para já, nenhum nome desafiou a liderança de Feijóo à frente do PP e o atual presidente do partido é o único candidato ao cargo no congresso de julho.
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