"O Irão tem um programa nuclear pacífico e estamos plenamente convencidos disso. Não temos nada a esconder a este respeito", declarou o chefe da diplomacia iraniana, Abbas Araghchi, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
Araghchi está na capital do Egito para uma reunião com o homólogo egípcio, Badr Abelatty, e com o chefe da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi.
Antes da reunião, Grossi tinha apelado ao Irão para que fosse "mais transparente" sobre as atividades nucleares.
Teerão anunciou no sábado que recebeu uma proposta dos Estados Unidos para um novo acordo sobre o programa nuclear, após cinco rondas de negociações mediadas por Omã.
"Se o objetivo das negociações é garantir que o Irão não pretende adquirir armas nucleares, então um acordo parece-me possível", afirmou Araghchi no Cairo, antes da reunião tripartida.
Mas, se "o objetivo for privar o Irão das atividades pacíficas, então não haverá certamente acordo", acrescentou.
O porta-voz da diplomacia iraniana, Esmail Baghai, disse que, na perspetiva de um eventual acordo, o Irão quer garantias de que Washington levantará as sanções contra Teerão.
"Até agora, a parte americana não quis esclarecer esta questão", afirmou Baghai.
Na proposta, segundo o jornal norte-americano New York Times, Washington pede ao Irão que cesse todo o enriquecimento de urânio e propõe criação de um grupo regional para produzir energia nuclear.
Nem o Irão nem os Estados Unidos confirmaram o conteúdo da proposta revelado pelo jornal.
Os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, e Israel, inimigo declarado do Irão e considerado pelos especialistas como a única potência nuclear do Médio Oriente, suspeitam que Teerão pretende adquirir armas nucleares.
O Irão nega tais ambições militares, mas insiste no direito à energia nuclear civil, nomeadamente para fins energéticos, ao abrigo do Tratado de Não Proliferação (TNP), de que é signatário.
Um relatório AIEA conhecido no sábado revelou que o Irão aumentou a produção de urânio enriquecido a 60%, um nível próximo dos 90% necessários para fabricar armas atómicas.
"Precisamos de mais transparência - isso é muito, muito claro - no Irão e nada nos dará essa confiança, a não ser explicações completas sobre um certo número de atividades", afirmou Grossi.
O diplomata argentino defendeu o "relatório imparcial" da AIEA, cujas conclusões o Irão rejeitou como sendo políticas e baseadas em informações "pouco fiáveis e enganadoras".
A agência divulgou o relatório antes da reunião do Conselho de Governadores da AIEA em Viena, Áustria, de 09 a 13 de junho, em que serão analisadas as atividades nucleares do Irão.
Denunciando "as pressões exercidas sobre a agência por alguns países europeus", Aragchi ameaçou-os no domingo com "uma resposta proporcional do Irão" se quisessem "explorar mais o relatório político".
A França, o Reino Unido e a Alemanha, juntamente com a Rússia e a China, são membros do acordo assinado com a República Islâmica em 2015 para regular o programa nuclear iraniano.
Os Estados Unidos também assinaram o acordo, mas retiraram-se unilateralmente três anos depois, durante o primeiro mandato de Donald Trump (2017-2021), e reimpuseram as sanções.
Ao lado do ministro iraniano, o chefe da diplomacia egípcia apelou para uma solução pacífica para a questão nuclear iraniana, referindo que "a região está farta de crises e de desafios de segurança".
"Rejeitamos totalmente qualquer agravamento e qualquer incitamento a escolher a opção militar", a fim de evitar "um caos prejudicial do qual ninguém sairá ileso", acrescentou Abelatty.
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