Numa declaração à imprensa após a sua chegada ao Conselho da União Europeia, em Bruxelas, onde os ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros do bloco comunitário se reúnem hoje, o chefe da diplomacia dos Países Baixos, Caspar Veldkamp, referiu que "a iniciativa neerlandesa de pedir uma análise ao cumprimento do artigo 2.º --- sobre o respeito pelo direito internacional humanitário - do acordo UE-Israel começou a ganhar apoio" e que "vários Estados-membros já a apoiam".
O pedido dos Países Baixos foi apresentado na semana passada, numa carta enviada à Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Kaja Kallas, na qual Veldkamp defende uma análise para determinar se o bloqueio por Israel da ajuda humanitária a Gaza viola o acordo de associação e especificamente aquele artigo.
"Ainda não sabemos exatamente quantos [Estados apoiam], mas esta iniciativa já enviou um sinal muito claro, tanto para a Europa como para Israel, de que estamos profundamente preocupados com a situação humanitária na Faixa de Gaza", afirmou o diplomata.
"Queremos que o bloqueio humanitário seja completamente levantado e estamos profundamente preocupados com a intensificação da ofensiva militar israelita", acrescentou.
Veldkamp reconheceu que a UE é uma "amiga de Israel", mas reiterou que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deve ordenar uma investigação para saber se Israel ainda reúne as condições de associação ao bloco dos 27.
"Também me considero um amigo de Israel. Mas acredito que também é importante que a Europa envie agora um sinal claro a Israel sobre as preocupações que existem na Europa, tanto nas nossas sociedades como a nível político, em relação à situação humanitária em Gaza e à crescente ofensiva israelita", alertou o ministro dos Negócios Estrangeiros.
Altos diplomatas europeus confirmaram hoje à rádio pública neerlandesa NOS que pelo menos 11 dos 27 países da UE são favoráveis à investigação sobre se o comportamento de Israel em Gaza está em conformidade com os princípios democráticos e de direitos humanos exigidos pelo acordo de associação.
No entanto, é necessário o apoio de pelo menos 14 países para forçar uma resposta da Comissão, seja no sentido de iniciar um procedimento de investigação ou para explicar porque não o faz.
Amesterdão não está a pedir o fim do acordo de associação com Israel, nem a suspensão do diálogo com o Estado hebraico, mas uma investigação sobre o respeito dos princípios defendidos.
A Irlanda e a Espanha já propuseram suspender o tratado, em outubro passado, mas isso requer o apoio de todos os 27, e a Hungria, um importante parceiro israelita, não hesitará em utilizar o seu veto.
Ao flexibilizar o objetivo, o Governo dos Países Baixos espera que "este não seja considerado um passo demasiado grande por alguns Estados-membros" e consiga, por isso, mais apoio.
O ministro neerlandês observou ainda que estas preocupações também estão a crescer na sociedade, nas forças de segurança e até nos serviços de informação de Israel.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou no domingo que ia autorizar a entrada de uma "quantidade básica de alimentos" para evitar a fome na Faixa de Gaza, depois de várias organizações humanitárias terem alertado, durante semanas, para a escassez de alimentos, água potável, combustível e medicamentos no território palestiniano, em guerra há mais de 19 meses.
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