O novo líder da Igreja Católica saudou em espanhol a "amada diocese de Chiclayo", onde foi bispo de 2015 a 2023, prestando homenagem ao "povo fiel" da cidade, a quarta mais populosa do Peru.
"Penso que é importante o facto de ele - como esteve no Peru 20 anos - ter falado ontem [quinta-feira] em espanhol e isso não é pura e simplesmente, porque é poliglota. Eu penso que é porque ele dirigiu-se concretamente aos cristãos do Peru, da diocese onde ele tinha estado, e nós sabemos muito bem que na lista das deportações de Trump os latinos ocupam um papel importante", salientou Teresa Toldy, em declarações à Lusa.
O Peru tem recebido vários cidadãos peruanos deportados dos Estados Unidos, depois de o Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, ter anunciado uma política de deportações em massa de quem não tem documentos para permanecer no país.
Teresa Toldy lembrou que Leão XIV, de 69 anos, "não é um Papa dos Estados Unidos, daquilo que são os cardeais da ala de Trump".
"Quando Trump diz que fica muito orgulhoso, é uma coisa genérica, porque este Papa não era um dos alinhados com Trump. (...) Se fosse alinhado, seria uma situação catastrófica. É um Papa que falou da paz, fundamentalmente, quando sabemos as situações de guerra que existem no mundo, inclusivamente as posições muito ambíguas dos EUA relativamente a isso", observou Teresa Toldy.
A estudiosa também considerou significativo o Papa Leão XIV ter dito que "Deus ama todos incondicionalmente", recordando uma publicação de Robert Francis Prevost, enquanto cardeal, na rede social X a reagir a uma afirmação do vice-presidente norte-americano, JD Vance, dizendo que Deus amava uns mais do que os outros.
"Nessa altura, (...) colocou na sua rede social que o que JD Vance diz está incorreto -- está mal -- porque Deus ama todos. Eu acho que ele ter dito essa frase, 'Deus ama todos incondicionalmente', também quer transmitir uma mensagem", referiu.
Tendo notado que houve "alguns padres que não bateram palmas", na primeira aparição de Robert Francis Prevost como líder da Igreja Católica, Teresa Toldy identificou que já começaram a aparecer "alguns comentários, nomeadamente [norte-]americanos, que o situam como um Papa marxista, como um Papa 'woke'".
"Isso é indicativo, precisamente, de que temos um Papa que vai procurar ser um Papa aberto, um Papa dialogante, um Papa que escuta, e que só é um elogio para ele começarem-se a dizer este tipo de coisas. Claro que eu não acho que o Papa seja marxista, nem acho que o Papa seja 'woke', a questão não é essa. A questão é o perceberem que este Papa, pelo facto de não fazer um discurso retrógrado, imediatamente não pode ser situado desse lado que, eventualmente, gostaria de andar com a Igreja para trás", vincou.
A teóloga destacou ainda que as pontes dentro da Igreja podem ser importantes e a referência à sinodalidade.
"O Papa Francisco fez uma interpretação do Sínodo, da sinodalidade, como um processo de envolvimento de todos os crentes, um processo de diálogo, um processo de debate, um processo de escuta. Já estava no hospital quando disse que este processo se vai prolongar por mais três anos. E ontem [quinta-feira] o Papa Leão XIV falou do sínodo, falou da sinodalidade", recordou.
Robert Francis Prevost tornou-se na quinta-feira o primeiro norte-americano a ser eleito Papa, ao fim de dois dias de conclave para escolher o sucessor de Francisco, que morreu aos 88 anos, após 12 anos de pontificado.
Leão XIV, nascido em Chicago, nos Estados Unidos, tem ascendência espanhola e nacionalidade peruana, e pertence à Ordem de Santo Agostinho.
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