"Atacaram todos os sírios e cometeram um erro imperdoável. A retaliação chegou e vocês não foram capazes de resistir. Deponham as vossas armas e rendam-se antes que seja tarde demais", disse al-Sharaa, que liderou a coligação islamista que derrubou o ex-presidente Bashar al-Assad a 08 de dezembro.
Uma operação das novas autoridades da Síria no noroeste do país, bastião de al-Assad, provocou a morte de pelo menos 162 pessoas da minoria alauita, segundo um novo balanço do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Num discurso transmitido na rede social Telegram, al-Sharaa prometeu ainda continuar a luta contra as "armas não controladas"
"Vamos continuar a trabalhar para que o monopólio das armas fique nas mãos do Estado e não haja mais armas sem controlo", disse o líder da Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS), que tem como principal missão a pacificação de um país dilacerado por quase 14 anos de guerra civil.
Uma fonte de segurança citada pela agência oficial síria Sana relatou "atrocidades isoladas" cometidas por "multidões desorganizadas" em retaliação pelo assassínio de vários membros da polícia e das forças de segurança por homens leais ao antigo regime.
"Estamos a trabalhar para pôr fim a estes abusos que não representam todo o povo sírio", disse a fonte do Ministério do Interior.
Os últimos dados da organização não-governamental OSDH, sediada no Reino Unido com uma vasta rede de colaboradores na Síria, davam conta de mais de 130 mortes, referindo-se a execuções documentadas em imagens.
A violência, sem precedentes desde a queda do ex-Presidente Assad, fez mais de 260 mortos desde quinta-feira, de acordo com um novo balanço do OSDH.
De acordo com o OSDH, as vítimas pertenciam ao grupo étnico-religioso minoritário alauita de al-Assad, que fugiu para a Rússia em 08 de dezembro de 2024, após uma operação militar da coligação rebelde.
Os ataques na região começaram na quinta-feira e continuaram hoje, marcando a pior fase de violência desde a mudança do regime, agora controlado pelos antigos rebeldes.
Os confrontos mais recentes começaram quando as forças governamentais tentaram deter uma pessoa procurada perto da cidade costeira de Jableh na quinta-feira e foram emboscadas por apoiantes de Assad.
Na quinta e hoje, homens armados das novas forças sírias invadiram as aldeias de Sheer, Mukhtariyeh e Haffah, junto da costa, matando dezenas de pessoas.
"Mataram todos os homens que encontraram", disse o líder do Observatório, Rami Abdurrahman.
Durante a última noite, Damasco enviou reforços para as cidades costeiras de Latakia e Tartus e para as aldeias próximas que albergam os grupos minoritários alauitas e constituem a base de apoio de Assad há longa data.
Um recolher obrigatório mantém-se em vigor até sábado em Latakia e noutras zonas costeiras.
A Turquia, que apoiou a oposição armada contra Assad, criticou hoje qualquer provocação que ameace a paz "na Síria e na região" após os violentos confrontos.
"As tensões dentro e à volta de Latakia e o ataque às forças de segurança podem comprometer os esforços para levar a Síria à unidade e à fraternidade (...) Esta provocações podem tornar-se numa ameaça à paz na Síria e na região", advertiu a diplomacia de Ancara.
A Turquia, que apoia o governo interino em Damasco, tem ainda vários milhares de soldados destacados em território sírio.
Anteriormente, o enviado especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, já se tinha declarado "profundamente alarmado" com os confrontos mortais nas zonas costeiras do país, pedindo a todas as partes que "exerçam moderação".
Leia Também: Novo balanço eleva para mais de 130 número de mortos na Síria