"Há uma grande probabilidade de Donald Trump colocar o Reino Unido numa posição em que terá de fazer algumas escolhas que preferiria não fazer. Uma delas seria se os EUA se retirassem da Ucrânia", afirmou hoje o professor de Relações Internacionais na universidade London School of Economics.
Este académico acredita que a redução do apoio a Kiev pelos EUA é inevitável, mesmo se a democrata e atual vice-presidente, Kamala Harris, fosse eleita, "mas a forma de o fazer é realmente importante, a que ritmo e em que altura".
Outro dilema, acrescentou hoje, num encontro com jornalistas, pode surgir se a Casa Branca oferecer um acordo de comércio a Londres que implique um afastamento da União Europeia.
"Trump é muito transacional, acredita em negociações bilaterais e não multilaterais, e acredita que a incerteza sobre o que vai fazer dá-lhe uma vantagem", explicou.
Alexander Evans, outro professor de Política na LSE, lembrou que "o Reino Unido tem tido divergências com sucessivas administrações norte-americanas em matéria de política, mas nenhuma acabou por romper a relação".
O que este antigo assessor em governos dos dois países salienta é a importância de estabelecer relações entre as duas capitais, destacando o papel da embaixadora britânica em Washington, Karen Pierce.
"Ela terá desenvolvido laços com republicanos e 'trumpistas', bem como com democratas. O facto de o primeiro-ministro, Keir Starmer, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, David Lammy, terem jantado com Trump em setembro deste ano mostra que essa relação já começou a ser construída", vincou.
Starmer foi um dos primeiros líderes estrangeiros a felicitar Donald Trump após a sua vitória numa conversa telefónica com o Presidente eleito na quarta-feira à noite, dizendo que "esperava trabalhar em estreita colaboração", de acordo com um comunicado de Downing Street.
Mas com as tendências protecionistas do bilionário republicano, a questão do apoio à Ucrânia e os comentários pouco lisonjeiros feitos no passado sobre o ex-presidente por alguns ministros britânicos podem causar problemas ao governo trabalhista.
Num artigo hoje para o jornal Daily Telegraph, o líder do Partido Reformista britânico, Nigel Farage, urgiu o Governo a "estender a passadeira vermelha muito rapidamente" a Trump e ofereceu-se para ajudar graças à sua amizade pessoal com o Presidente eleito norte-americano.
"Talvez a maior preocupação que Keir Stammer enfrenta em termos políticos é o facto de Trump ter anunciado um grande regime tarifário. O Reino Unido está, potencialmente, numa posição privilegiada. Tais tarifas podem ser evitadas - mas apenas através de negociações diretas com a equipa de Trump", alertou.
Farage invocou o "interesse nacional", propondo: "Se eu puder ser útil de alguma forma quando se trata de colmatar o fosso que existe entre o governo de Starmer e Trump, terei todo o gosto em ajudar".
O republicano Donald Trump foi eleito o 47.º Presidente dos Estados Unidos, tendo superado os 270 votos necessários no colégio eleitoral, quando ainda decorre o apuramento dos resultados. Trump segue também à frente da adversária democrata no voto popular, com 50,9% contra os 47,6% de Kamala Harris.
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