Estónia vista como país vencedor na UE (mas oposição aponta problemas)

Os partidos políticos com representação parlamentar na Estónia apontam, maioritariamente, que a adesão à União Europeia (UE) fez o país crescer e devolveu-lhe a ansiada soberania e segurança, mas divergem sobre o que falta fazer.

The Estonian and the European flag are pictured during the opening concert at the Freedom Square in Tallinn to celebrate Estonia's six month EU Presidency on June 29, 2017. - European Commission President Jean-Claude Juncker heads a visit of the 28-member

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Lusa
29/04/2024 08:17 ‧ 29/04/2024 por Lusa

Mundo

UE/Alargamento

Em 01 de maio de 2004 a Estónia aderiu oficialmente à UE e quase duas décadas depois, na última semana de abril de 2024, membros dos partidos com representação no Riigikogu, o parlamento, conversaram com a Lusa sobre a transformação de um país que só conheceu a independência em 1991 e que precisou de fazer uma cisão com meio século de ocupação soviética.

O parlamento está encerrado e não há plenário na última semana de abril, pelo que a maioria dos 101 deputados aproveitou para fazer uma miniférias e preparar a campanha eleitoral que se avizinha, ainda que o nevão incomum para esta altura do ano tenha impossibilitado ações de rua.

No interior do Riigikogu, Hendrik Terras, deputado do Estónia 200, recebeu a Lusa no seu gabinete. O parlamentar com apenas 30 anos está a encabeçar um partido que tem pouco mais de cinco anos, mas já 'carimbou' um lugar na história política do país ao constituir uma coligação com o Partido Reformista da Estónia, da primeira-ministra Kaja Kallas, e o Partido Social-Democrata, uma 'geringonça' mais ao centro que, em princípio, aguentará até 2027, mas com a particularidade de incorporar ministros dos três partidos.

"Tinha 11 anos [quando o país aderiu à UE], foi uma coisa grande e beneficiámos muito disso", recordou Hendrik Terras, enaltecendo a maneira como o país conseguiu "desburocratizar-se".

"Comparando com outros países, a Estónia está muito à frente: tudo, desde as nossas informações médicas, toda a nossa documentação, está acessível através de uma plataforma e tudo é feito em cinco minutos", sustentou, comparando, por exemplo, "com a Alemanha, onde em dois minutos nem dá para abrir o envelope para tratar dos impostos".

Mas "há um problema com o défice", lamentou.

De acordo com os dados preliminares do Instituto de Estatística da Estónia, em 2023 o défice da administração pública era de 3,4% e o nível da dívida era de 19,6% do produto interno bruto (PIB).

"Não desempenhámos um papel no agravamento do défice, mas podem desempenhar um para apagá-lo", considerou Hendrik Terras.

Tanel Kiik, deputado do Partido Social-Democrata, o outro partido parceiro de coligação que faz aguentar o partido de Kaja Kallas, considerou que no país persiste uma discrepância de desenvolvimento.

"Há uma grande diferença, se olharmos bem. Para quem vive em Tallinn ou Tartu, essas áreas e os subúrbios estão a crescer, mas a maioria dos municípios estão a perder população. Isso é evidente nas áreas mais pequenas e rurais". A falta de emprego, de serviços de saúde e opções de lazer estão na base do êxodo que está a verificar-se no país, salientou.

"Nessas áreas o desemprego é maior e as pessoas estão insatisfeitas com as suas vidas. Isso é um problema para nós [...], está tudo demasiado centralizado", criticou, no seu gabinete no último piso do Riigikogu.

Uns andares abaixo, no bar do parlamento, Vadim Belobrovtsev, do Partido do Centro da Estónia, reconheceu à Lusa que o melhor que a adesão à UE trouxe foi os fundos europeus: "Graças ao dinheiro da União Europeia construímos edifícios e estradas".

Apesar do crescimento e de o Governo promover a Estónia como um 'hub' de 'startups' na Europa, o deputado do centro apontou baterias ao Partido Reformista da Estónia e às promessas que ficaram por cumprir.

"Tinham dito que em 15 anos seríamos um dos cinco países mais ricos da União Europeia. Infelizmente, essa não é a realidade e não somos sequer um dos 20 países mais ricos da UE", criticou, reconhecendo, contudo, que em duas décadas a "tendência é positiva".

Mas entre os dois partidos da coligação e a oposição que já foi Governo há uma posição consensual: fazer parte da União Europeia foi a melhor decisão que a Estónia libertada da ocupação soviética tomou.

Martin Helme, do Partido Popular Conservador, defende contudo que a pertença europeia custou ao país a sua soberania: "quando a Estónia referendou a decisão de aderir à União Europeia eu opus-me a essa pretensão [...], sabia que isso iria custar-nos a soberania, estava convencido disso, rapidamente aumentaria a burocracia e incharia o setor público", criticou.

Helme, conhecido por fazer ecoar as posições nacionalistas do seu pai, Mart Helme, reconheceu que "houve um crescimento rápido do PIB ao longo de 20 anos e que o país desenvolveu-se" a um ritmo sem precedentes, mas desvalorizou que a UE tenha influenciado esse processo: "Podia ter ocorrido se não tivéssemos aderido. Nunca saberemos."

A adesão à UE também "importou ideologias radicais" para a Estónia que de acordo com o líder partidário prejudicaram a sociedade estónia, como a "destruição da família tradicional, o multiculturalismo, que não estava presente na Estónia até à adesão".

"E há sempre o problema de imigração para a Estónia. Já tínhamos sofrido com isso durante a ocupação soviética. A União Soviética tinha uma política de trazer o maior número de pessoas de outras partes da União Soviética para a Estónia, por isso este assunto é muito sensível para nós", advogou, sem apresentar evidências que consubstanciem as alegações do problema atual com a imigração.

E adensou as críticas a Bruxelas: "A solução da Comissão Europeia para tudo é sempre retirar a soberania dos Estados-membros e depois fica tudo uma confusão. Foi assim com as vacinas [contra a Covid-19], com a imigração, com a saúde e finanças. A ideia da UE é centralizar tudo e acaba por piorar. Por isso também não quero vê-la seguir um caminho de política de segurança comum".

A Lusa fez sucessivos pedidos de entrevista, ao longo de várias semanas, ao Isamaa, partido de extrema-direita, mas não obteve resposta em tempo útil.

Leia Também: Eis o trajeto da Estónia desde a adesão à União Europeia em 2004

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