Meteorologia

  • 06 MAIO 2024
Tempo
18º
MIN 13º MÁX 20º

Irão enriqueceu urânio "além dos limites" e agora vive-se um impasse

Uma analista iraniano-luso-canadiana afirmou hoje que as sanções impostas ao Irão após Donald Trump ter retirado os Estados Unidos do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, 2017) levaram Teerão a enriquecer urânio "além dos limites", vivendo-se agora um impasse.

Irão enriqueceu urânio "além dos limites" e agora vive-se um impasse
Notícias ao Minuto

08:07 - 10/04/24 por Lusa

Mundo Irão

Numa entrevista à agência Lusa em Lisboa, Ghoncheh Tazmini, escritora, investigadora e conferencista independente que reside atualmente entre Portugal, Reino Unido e Canadá, defendeu que o Irão não está a brincar com a energia nuclear, responsabilizando o ex-presidente republicano por ter revogado em 2018 o acordo nuclear.

"O JCPOA foi o produto de anos de negociações com os países europeus e a União Europeia (UE), e era um acordo nuclear que tinha muitas obrigações que o Irão teria de cumprir", sublinhou a também licenciada em Relações Interacionais pela Universidade de British Columbia e pela London School of Economics, de Londres, com um doutoramento sobre a mesma temática pela Universidade de Kent, em Canterbury.

"Foi desfeito pela administração Trump, e o único efeito que teve foi isolar mais o Irão, mais sanções que vieram junto com o regime que Trump colocou, que era para sancionar o Irão ainda mais, isolar o Irão ainda mais, e o efeito disso foi que o Irão continuou a enriquecer urânio muito além dos limites, e agora temos um impasse. O Ocidente empurrou o Irão para os braços da Rússia, para 'pivotar' e para plantar a sua bandeira no chão, no lado oriental do mundo", explicou.

Questionada pela Lusa por que razão o Irão "não abre as portas" aos inspetores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Tazmini lembra que o acordo, a partir do momento em que Trump o revogou, "deixou de ser vinculativo".

"O facto de o Irão estar a enriquecer para além desses limites é informação pública. Isso está facilmente disponível na Internet. Eles permitiram-no. Mas, neste momento, não dispomos de um documento vinculativo", sublinhou. 

"O Irão tinha e cumprir um acordo vinculativo. O acordo foi desfeito. Quando o acordo estava em vigor, o Irão permitiu a entrada de inspetores no país, mas há sempre os meios de comunicação social que retratam o Irão como tendo uma agenda clandestina que está a esconder, que está a desinformar", acrescentou.

A 24 de fevereiro deste ano, um relatório confidencial da AIEA, divulgado pela agência noticiosa France-Presse (AFP), indicou que o Irão aumentou significativamente as reservas de urânio enriquecido nos últimos meses, prosseguindo a sua escalada nuclear, apesar de negar querer adquirir a bomba atómica.

Segundo o documento, as existências ascendiam a 5.525,5 quilos a 10 de fevereiro (contra 4.486,8 quilos no final de outubro), mais de 27 vezes o limite autorizado pelo acordo internacional de 2015 que rege as atividades atómicas de Teerão em troca do levantamento das sanções internacionais.

Nesse sentido, a AIEA, responsável pela verificação da natureza pacífica do programa nuclear iraniano, manifesta no relatório "preocupações crescentes" quando às verdadeiras intenções do Irão.

O JCPOA é um acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano assinado a 14 de julho de 2015 entre a República Islâmica do Irão, o P5+1 (China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e, mais tarde, Alemanha), e a União Europeia (UE). As conversações em Viena para reavivar o JCPOA têm fracassado desde então.

"Tudo isto são coisas que se veem nos principais meios de comunicação social. O facto é que um documento, um documento multilateral, um contrato que era um acordo nuclear decisivo, foi revogado, um documento em que a UE não teve qualquer intervenção para impedir que fosse revogado. Agora temos toda a gente no seu canto a seguir as suas próprias agendas independentes", criticou. 

A escritora, investigadora e conferencista independente nasceu em Teerão mas a família mudou-se para Londres três anos antes da revolução iraniana (1979) que  transformou uma monarquia autocrática pró-ocidental, liderada pelo xá Mohammad Reza Pahlevi, numa república islâmica teocrática sob o comando do ayatollah Ruhollah Khomeini.

Autora do livro "Power Couple -- Russian-Iranian Alignment In The Middle East", publicado já este ano no Reino Unido, Tazmini escreveu também "Khatami's Iran" (2007) e "Revolution and Reform in Russia and Iran" (2012) -- nenhum deles editados em Portugal.

Leia Também: Oito combatentes pró-Irão mortos em ataque com faca na Síria, diz ONG

Recomendados para si

;
Campo obrigatório