Em comunicado, o alto-representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, lembrou que, "na última terça-feira, as autoridades de Minsk avançaram com mais uma vaga de acusações" contra opositores ao regime.
"A UE condena os ataques contra representantes das forças democráticas bielorrussas e as suas famílias, naquilo que é mais um exemplo deplorável das repressões sistemáticas e má utilização do poder por Lukashenko e o seu regime", completou o chefe da diplomacia europeia.
Borrell acrescentou que a UE "vai continuar a apoiar aqueles que corajosamente se insurgem por uma Bielorrússia independente e democrática", ameaçando com "ações adicionais" - depois de várias sanções contra Minsk - para responder às "graves violações dos direitos humanos".
Minsk, avisou, deve "abster-se de repressões e violência adicionais contra a população" e "imediatamente e incondicionalmente libertar todos os prisioneiros políticos".
O gabinete de investigação criminal bielorrusso indicou na terça-feira que conduziu buscas na sequência de provas sobre uma alegada tentativa da oposição tomar o poder em 2020, medida que os críticos denunciaram como uma nova ação repressiva contra a dissidência.
Pavel Latushka, um antigo ministro que se juntou à oposição e abandonou o país, disse hoje à agência noticiosa norte-americana AP que a sua casa em Minsk foi revistada pelas autoridades, juntamente com dezenas de apartamentos de outros opositores e dos respetivos familiares por todo o país. O opositor disse ainda que as buscas envolveram polícias armados, que em vários casos arrombaram as portas de entrada das casas.
"Trata-se de uma nova vaga da brutal supressão da dissidência e perseguição a quem deixou o país, e em particular aos que permaneceram na Bielorrússia", denunciou Latushka.
O Comité de Investigação da Bielorrússia disse que as buscas se inserem numa investigação criminal sobre as atividades do Conselho de Coordenação, formado pela oposição após a votação de 2020 para acompanhar e dirigir os protestos.
Entre os membros deste Conselho encontram-se a escritora Svetlana Alexievich, vencedora do prémio Nobel da Literatura 2015 e que deixou o país, e Ales Bialiatski, o principal ativista bielorrusso de direitos humanos, um dos galardoados com o Nobel da Paz 2022, e que cumpre dez anos de prisão.
Previamente, as autoridades apelidaram o Conselho de "extremista" e acusaram os seus membros de cometerem alta traição e de conspirarem numa tentativa de tomar o poder. O Comité de Investigação disse que pretende confiscar os apartamentos e outros bens pertencentes aos membros do Conselho.
Aleksandr Lukashenko foi eleito Presidente da Bielorrússia em julho de 1994 e ocupa o cargo desde então. O regime bielorrusso é conhecido pelo alinhamento com Moscovo e por silenciar todos os opositores.
Em 2020, apesar de todas as sondagens apontarem para a eleição de Svetlana Tikhanovskaya como próxima Presidente, Lukashenko venceu 81% dos votos, o que desencadeou manifestações por todo o país, fortemente reprimidas pela polícia.
Tikhanovskaya viu-se obrigada a deixar o país e o marido está detido.
Com o início da invasão da Rússia à Ucrânia, Minsk serviu como base para as tropas russas atravessarem para o território ucraniano e tentarem ocupar Kiev, o que acabou por falhar.
Lukashenko tem sido visto como o mais próximo aliado do homólogo russo, Vladimir Putin, mas tem sido cauteloso em relação a alegações sobre o envolvimento do seu país no conflito.
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