Num evento especial da presidência chinesa do Conselho de Segurança da ONU para abordar a promoção da paz através do desenvolvimento comum, Guterres afirmou que, embora o desenvolvimento por si só não seja suficiente, "nenhuma paz está segura sem um desenvolvimento inclusivo e sustentável que não deixe ninguém para trás".
O líder da ONU observou que os avanços de desenvolvimento estão frequentemente entre "as primeiras vítimas" das guerras, num padrão que se repete em várias geografias do mundo: "quanto mais próximo um país estiver do conflito, mais longe estará do desenvolvimento sustentável e inclusivo", disse.
As desigualdades e a falta de oportunidades, de empregos dignos e de liberdade podem gerar frustração e aumentar o espetro da violência e da instabilidade, assim como instituições fracas e corrupção, ou o caos climático e a degradação ambiental, segundo Guterres.
"O desenvolvimento humano ilumina o caminho para a esperança - promovendo a prevenção, a segurança e a paz. É por isso que a promoção da paz e a promoção do desenvolvimento sustentável e inclusivo andam de mãos dadas", avaliou.
De acordo com o ex-primeiro-ministro português, construir a paz significa também aumentar o financiamento acessível e de longo prazo para os países em desenvolvimento, para que possam investir em bens e serviços públicos para a sua população.
Guterres frisou que "investir hoje no desenvolvimento significa investir num amanhã mais pacífico", salientando a necessidade de ser "fazer mais" para apoiar os países em dificuldades.
Num apelo direto aos membros do Conselho de Segurança, Guterres sugeriu que procurem de forma mais sistemática o aconselhamento da Comissão de Consolidação da Paz da ONU, que tem procurado unir a comunidade internacional em torno da natureza mutuamente reforçadora da paz e do desenvolvimento.
Além de Guterres, também a ex-chefe de Estado do Brasil e presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, Dilma Rousseff, e o professor Jeffrey Sachs, presidente da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU -- uma organização sem fins lucrativos criada pela ONU para promover a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a nível nacional e internacional -- fizeram um 'briefing' às dezenas de Estados-membros que participaram na reunião, incluindo Portugal.
A China convocou este debate para abordar formas de apoiar os países afetados por conflitos a alcançar uma paz sustentada.
Pequim argumentou que muitos conflitos regionais estão diretamente ligados ao desenvolvimento inadequado, que é "frequentemente resultado de pobreza extrema, disparidade de distribuição, falta de empregos e infraestruturas deficientes".
[Notícia atualizada às 18h40]
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