O cirurgião Ghassan Abu Sitta revelou que o hospital Al-Ahli é, neste momento, o único hospital em funcionamento em toda a cidade de Gaza, depois das unidades hospitalares al-Shifa e al-Quds terem sido forçadas a fechar quase completamente devido a bombardeamentos israelitas.
"Desde o colapso do Hospital al-Shifa, tornámo-nos o único hospital em funcionamento na cidade de Gaza", afirmou o médico em declarações à emissora de televisão Al Jazeera.
"Se se recordarem, este é o hospital que foi inicialmente alvo dos israelitas no início da guerra e, portanto, partes do hospital estão danificadas", recordou o profissional de saúde, referindo-se à explosão de 17 de outubro, a qual Israel negou responsabilidade.
"Após o colapso do al-Shifa, transformamos o pátio e o terreno do hospital num hospital de campanha. Temos mais de 500 feridos aqui. Só temos três cirurgiões e duas salas de cirurgia. Temos de realizar procedimentos extremamente dolorosos nas feridas dos pacientes para evitar que infetem, sem analgésicos ou anestésicos. Os suprimentos estão limitados e guardamo-los para a maior parte das cirurgias que salvam vidas", esclarece Abu Sitta.
"Especialmente quando o fazemos com crianças, sentimos a dor que nos está a ser infligida. Mas, ao mesmo tempo, estas feridas têm de ser limpas", contou ainda.
Abu Sitta relata ainda à Al Jazeera que "90 por cento do que faço agora é ganhar tempo para estes doentes", esperando que aconteça "alguma coisa". "Algum milagre, algum avanço, algum cessar-fogo ou corredor humanitário, qualquer coisa", disse.
O médico considerou ainda que a evacuação "não é possível de todo" neste momento, salientando que "as ruas não estão seguras".
"Há tiros de metralhadora à volta do hospital a toda a hora e ainda há ataques. Sabemos que as equipas de ambulâncias que transportam os doentes são regularmente alvejadas", lamentou Abu Sitta.
"Estou a tentar perceber o que é que o mundo está à espera, em que momento é que o mundo acredita que já chega e que já não é aceitável, nos dias de hoje, que isto seja feito às pessoas", finalizou.
De recordar que o maior hospital da Faixa de Gaza ficou completamente sem energia elétrica e os recém-nascidos tiveram de ser retirados das incubadoras. Seis crianças já morreram devido à falta de luz e de proteção e o centro continua a ser atacado por Israel, apesar dos milhares de civis abrigados.
O hospital de Al-Shifa não é, contudo, o único sob condições difíceis. Segundo o ministério da Saúde de Gaza, liderado pelo Hamas, todos os hospitais no norte da Faixa de Gaza estão inoperacionais, incluindo o segundo maior hospital da região, o de Al-Quds, cujo encerramento foi anunciado pelo Crescente Vermelho palestiniano.
A 7 de outubro, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) - desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel -- realizaram em território israelita um ataque de dimensões sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.200 mortos, na maioria civis, cerca de 5.000 feridos e mais de 200 reféns.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre que cercou a cidade de Gaza.
A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 38.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza 11.180 mortos, 28.200 feridos, 3.250 desaparecidos sob os escombros e mais de 1,5 milhões de deslocados, segundo o mais recente balanço das autoridades locais.
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