As ilhas espanholas das Canárias, localizadas no Atlântico, em frente à costa ocidental africana, estão a enfrentar, desde há semanas, um pico de chegadas de embarcações precárias com centenas de pessoas a bordo.
Só no fim de semana passado, mais de 1.600 pessoas chegaram às Canárias desta forma.
O porta-voz do governo regional, Alfonso Cabello, disse hoje que as estruturas de resposta das ilhas estão há "muitos dias consecutivos" sob "máxima pressão" e "começam a estar exaustas".
O executivo pediu por isso hoje ao Governo nacional de Espanha para ser solicitada à União Europeia (UE) a ativação do Mecanismo de Proteção Civil comunitário, revelou o porta-voz.
Este mecanismo europeu permite mobilizar mais fundos e meios para responder ao fenómeno migratório, disse Alfonso Cabello, que acrescentou que o executivo regional "continua sem notar" que o Governo espanhol, liderado pelo socialista Pedro Sánchez, esteja "a dar a isto a máxima prioridade".
Alfonso Cabello referiu, em especial, a situação dos já mais de 4.000 menores migrantes não acompanhados que estão nas Canárias.
O porta-voz pediu um mecanismo de solidariedade permanente e contínuo entre as regiões autónomas de toda a Espanha para o acolhimento destes menores e lembrou, a este propósito, que há 12 dias houve um acordo para a distribuição de 347 destas crianças e jovens entre as comunidades, mas "em quatro dias chegam 400".
Assim "não se dá uma resposta de acordo com as suas necessidades", afirmou o porta-voz do governo regional, uma coligação formada pela Coligação Canária e pelo Partido Popular (PP, direita).
Entre 01 de janeiro e 15 de outubro, chegaram às Canárias, em embarcações precárias e em situação irregular, 23.537 pessoas, um número só superado pelo de todo o ano de 2006 (31.678 migrantes), segundo os dados do Ministério da Administração Interna de Espanha.
Só na primeira quinzena de outubro, as autoridades espanholas registaram a chegada de 8.561 pessoas ao arquipélago, mais 79% do que no mesmo período do ano passado.
Durante 2022 e no primeiro semestre de 2023, a designada "rota das Canárias" das migrações, uma das mais perigosas a partir do continente africano, parecia estar a dar sinais de estabilização ou mesmo de descida no número de chegadas.
No ano passado foram registadas 15.682 chegadas, menos 30% do que em 2021. Já este ano, entre janeiro e o final de maio, esses números revelavam uma diminuição de 47% (de 8.268 para 4.406) em relação ao mesmo período de 2021.
No entanto, nos meses do verão, a tendência de descida alterou-se e os números de chegada começaram a subir.
Espanha é um dos países europeus que lida com maior número de entradas de migrantes em situação irregular na Europa, através das costas do Mediterrâneo e dos arquipélagos das Canárias e das Baleares.
Segundo os dados do Governo, também aumentaram este ano, comparando com 2022, as chegadas de migrantes a território continental e às Baleares (localizadas no Mediterrâneo), mas o crescimento é de menor dimensão do que aquele que está a acontecer nas Canárias.
O ministro da Administração Interna de Espanha, Fernando Grande-Marlaska, anunciou na semana passada o reforço, durante um mês e meio, da vigilância das costas do Senegal e da Mauritânia, em colaboração com as autoridades destes dois países africanos, para evitar a saída de embarcações com migrantes rumo às Canárias.
O ministro atribuiu o aumento das chegadas às Canárias à "desestabilização no Sahel" e defendeu, em linha com o que tem dito repetidamente o Governo espanhol, a cooperação, em diversas áreas, com os países de origem e trânsito da imigração ilegal.
Fernando Grande-Marlaska disse ainda que Espanha tem reforçado, nos últimos anos, as infraestruturas e os recursos humanos para acolher os migrantes nas Canárias.
No mesmo dia, a organização Rede Espanhola de Imigração e Ajuda ao Refugiado apresentou uma queixa na Provedoria de Justiça contra a Secretaria de Estado das Migrações "pela inação e falta de reforços" perante o pico de chegadas de migrantes às Canárias.
Segundo a organização não-governamental (ONG), há um "caos continuado" nas Canárias que já provocou situações "de enorme gravidade", como pessoas amontoadas em "zonas insalubres" e outros "espaços temporários que se foram deteriorando".
Para além dos migrantes que chegam às costas espanholas, há centenas que morrem no mar.
Perto de mil pessoas morreram no Mediterrâneo e no Atlântico nos primeiros seis meses deste ano quando tentavam chegar a Espanha, a partir do norte de África, segundo outra ONG, a Caminhando Fronteiras.
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