Polónia. Analistas veem "geringonça" de Tusk como bom sinal para UE
Analistas de assuntos europeus ouvidos pela Lusa consideram que o anúncio de uma "geringonça" na Polónia surpreendeu Bruxelas, mas foi recebido por satisfação e como uma das "raras boas notícias dos últimos tempos".
© Mateusz Wlodarczyk/NurPhoto via Getty Images
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"A derrota do PiS [Lei e Justiça], não eleitoral, mas política, e a possibilidade de formação de um Governo liderado por Donald Tusk foi recebida em Bruxelas com tanta satisfação quanta surpresa. Era o resultado desejado, mas não era o que se pensava que iria acontecer. Foi uma das raras boas notícias dos últimos tempos", disse à Lusa Henrique Burnay, analista na área dos assuntos europeus.
A vitória, apesar de não ser nas urnas, de Donald Tusk, antigo primeiro-ministro polaco e presidente do Conselho Europeu, "é também uma boa notícias para os próprios polacos", acrescentou, já que a Polónia, "pela sua dimensão, população e economia deveria ocupar um lugar de maior relevância dentro da União Europeia (UE)".
"O governo do PiS, com as suas posições ultra conservadoras, nacionalistas e de incómodo com as práticas das democracias liberais, tem impedido que a Polónia ocupe esse lugar. Ao longo do último ano e meio, a posição da Polónia a propósito da guerra da Ucrânia alterou as circunstâncias", completou Henrique Burnay.
O PiS também "desbaratou um crédito durante a campanha eleitoral" com os conflitos com a Ucrânia e com a Alemanha.
Paulo Sande, especialista em Direito da UE, partilha da opinião e Henrique Burnay: "A Europa precisa da Polónia. Sem a Polónia a Europa a leste fica muito diminuída e isso contribuiu para o seu enfraquecimento como um todo".
E no horizonte avizinha-se mesmo um virar da página para um capítulo sem euroceticismo.
"O que é que pode mudar? Pode mudar muita coisa, nomeadamente as atitudes inopinadas relativamente à Ucrânia. É provável que haja um discurso, embora isso seja mais difícil... Agora toda a Europa enfrenta esta questão dos migrantes e refugiados. Mas mudará a relação com a UE e vamos ver como é que se resolvem todos os processos que estão em curso. É uma boa notícia para a Europa e para a sua coesão", advogou.
E o alinhamento do Presidente polaco, Andrzej Duda, com o PiS não preocupa Paulo Sande, já que "não terá grande margem para manobra" e está no fim desta fase da sua vida política.
Contudo, o anúncio da coligação que vai obter a maioria parlamentar, na ótica de Paulo Sande, revela uma tendência europeia.
Remetendo para 2015, quando a coligação "Portugal à Frente" (PSD e CDS-PP) venceu as eleições legislativas em Portugal, mas o PS, com um acordo firmado com BE, PCP e PEV conseguiu uma maioria parlamentar de esquerda, dando origem à "geringonça".
"Estamos cada vez mais numa nova realidade eleitoral e democrática, em que os partidos que não ganham são muitas vezes os que governam e as coligações são abstrusas. Têm como objetivo principal o poder e espelham um maniqueísmo grande", referiu, aludindo também para a possibilidade de o mesmo vir a acontecer em Espanha, com o PSOE, numas eleições vencidas pelo PP.
Paulo Sande considera que "é um fenómeno da democracia" e há claramente "uma tendência".
"A entrada em cena de Tusk, um velho conhecido de Bruxelas e uma figura conciliadora, pode, além de tudo o mais, contribuir para que a Polónia retome o lugar que é natural que ocupe", complementou Henrique Burnay.
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