Manifestações em Maputo contra resultados das eleições autárquicas
Milhares concentraram-se hoje no centro de Maputo, gritando "povo no poder" entre as rimas do falecido 'rapper' Azagaia, contestando os resultados anunciados das eleições autárquicas e o partido Frelimo, no primeiro dia de manifestações convocadas pela Renamo.
© Lusa
Mundo Maputo
"Chega. Para mim, chega de verdade", afirma Jaime Simango, que aderiu à manifestação convocada pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) para contestar os resultados das eleições autárquicas de 11 de outubro anunciados pelos órgãos eleitorais, em que o maior partido da oposição não venceu, oficialmente, qualquer município, apesar de garantir contrário.
Em plena Praça dos Combatentes, arrancou hoje o primeiro dia de manifestações nacionais com que a Renamo pretende contestar o que afirma ser a "megafraude" eleitoral, com milhares a protestarem contra a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, empunhando cartazes e utilizando "Povo no poder", música do "rapper do povo", Azagaio, que morreu em março último, como mote, a ecoar nos altifalantes de uma carrinha de som ali colocada pela Renamo.
Aos 45 anos, Jaime Simango vive de biscates e está convicto que as eleições em Moçambique, desde 1994, "nunca foram justas", pelo que o povo está "cansado", responsabilizando a Frelimo, declarada vencedora em 64 das 65 autarquias que foram a votos, apesar de denúncias generalizadas, da sociedade civil aos partidos, de "fraude eleitoral".
"Não basta estar em casa, tenho de estar aqui com os meus irmãos", garante, justificando a presença nesta primeira manifestação com a "manipulação" dos resultados eleitorais que, assegura, "este ano não conseguiram fazer" face à resposta do povo.
"É difícil viver neste tipo de país. Nós não emprestamos o país", desabafa, atirando ainda: "Se amassem o povo não eram estas eleições que estamos a ver agora".
Entre batuques, apitos, danças e alguns elementos da polícia a controlar à distância, sem qualquer intervenção e apesar do forte congestionamento na envolvente da Praça dos Combatentes, a contestação aos resultados das eleições, numa altura em dois tribunais distritais já as mandaram repetir localmente por confirmarem irregularidades, é generalizada.
Neiva Eunice, 27 anos, é operadora de caixa e deixou o trabalho para comparecer à marcha do maior partido da oposição antes de seguir para as principais ruas de Maputo: "Se estiverem a me ver, meus irmãos moçambicanos, a altura é esta. Não dá para viver como inquilinos no país".
Juntou-se ao protesto para "manifestar a indignação", desde logo pelos resultados anunciados pelas autoridades eleitorais nas autarquias de Maputo, capital, e Matola, a cidade mais populosa do país, em que foi atribuída a vitória à Frelimo, apesar de a Renamo insistir, mostrando a contagem de votos dos editais de cada assembleia, que venceu nessas duas e em várias outras pelo país.
"Muito revoltados, estamos aqui porque nós sabemos que não votamos na Frelimo", afirma a jovem, gritando: "Basta".
João Tchupela, 64 anos, já está reformado, mas ainda assim decidiu juntar-se à marcha no ponto de saída: "O povo decidiu como decidiu, mas há quem, neste momento, quer-se por acima da lei e acima da vontade do povo. Por isso viemos exigir os nossos direitos, exigir o nosso voto".
E, assume, "é tempo de dizer chega" com este protesto, que a Renamo convocou por tempo indefinido, diariamente: "É tempo de dizer basta. É tempo de ser respeitada a vontade do povo".
"Estão a tentar empurrar o povo para a guerra, de novo. Mas o povo já não está mais interessado com a guerra", afirma Tchupela.
Bento Carlos Mavia é membro da Comissão Política Nacional e assume que o sentimento está "generalizado" entre a população: "Chega de fraude, chega de sermos dirigidos por corruptos, chega de dividas ocultas, chega de tudo o que é de mal para a sociedade".
Neste cenário, a Renamo promete lutar nos tribunais para contestar os resultados intermédios anunciados e até protestos diários nas ruas.
"Nós vamos até às últimas consequências. Temos consciência que o regime é um regime hostil, que até pode assassinar, mas todos entregamos as nossas vidas para o bem dos munícipes da cidade de Maputo em particular e de todo o Moçambique na generalidade", garante, pouco antes da concentração, já com milhares de pessoas, passar a marcha, ao final da manhã.
Lívia André, de 20 anos, vende nas ruas e votou pela primeira vez nestas eleições autárquicas. Hoje saiu às ruas em protesto, "contra a manipulação dos votos".
"Estamos cansados, nem nos tratam como povo", conclui.
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