Fontes da delegação da União Europeia em Pequim disseram à agência Lusa que a visita vai decorrer entre quinta-feira e sábado e inclui um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, e um discurso na Universidade de Pequim.
A deslocação foi adiada por duas vezes este ano. Em abril, quando Borrell testou positivo para a covid-19, e em julho, quando Pequim cancelou subitamente a visita, numa altura em que o anterior ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, deixou de ser visto em público.
A visita surge numa altura de crescentes fricções comerciais entre a União Europeia e a China, apesar de o comércio bilateral ter ascendido a 856,3 mil milhões de euros, em 2022.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, delineou uma estratégia para reduzir riscos no comércio com a China.
As empresas ocidentais podem fazer negócios com o país asiático, mas com algumas salvaguardas: vetar a venda de tecnologias críticas com potenciais utilizações militares e reduzir dependências nas cadeias de abastecimento.
Bruxelas iniciou também uma investigação sobre subsídios atribuídos pelo Governo chinês aos fabricantes de veículos elétricos.
O ministério do Comércio chinês manifestou, na semana passada, firme oposição, acusando a investigação de ter como base "suposições subjetivas, carecer de provas suficientes e ser contrária às regras da Organização Mundial do Comércio".
Outro assunto que deve ser abordado por Borrell é a guerra na Ucrânia.
A China afirmou ser neutra no conflito, mas mantém uma relação "sem limites" com a Rússia e recusou-se a criticar a invasão da Ucrânia. Pequim acusou o Ocidente de provocar o conflito e "alimentar as chamas" ao fornecer à Ucrânia armas defensivas.
Os líderes europeus têm instado repetidamente Pequim a usar a sua influência junto da Rússia para pôr fim à guerra na Ucrânia.
Citado pelo Global Times, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, Li Haidong, professor na Universidade de Relações Externas da China, disse que a visita de Borrell deve abrir caminho à cooperação em vários domínios, incluindo economia, setor energético e intercâmbio entre pessoas.
"Apesar de almejar maior autonomia em questões económicas, a UE foi raptada pelos Estados Unidos em questões de segurança", observou. Pequim "deseja que a Europa se torne mais preponderante e influente no cenário mundial", acrescentou.
A China quer que o "padrão estratégico global seja mais equilibrado, em vez de ter a Europa como refém dos EUA", disse. "Esse é um objetivo partilhado por Pequim e Bruxelas".
Também citado pela imprensa oficial, Cui Hongjian, professor da Academia de Governação Regional e Global da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim, disse que a China espera que Borrell esclareça o conceito de "redução dos riscos" no comércio bilateral.
"Considerar a China como um risco não é a forma correta de tratar um parceiro estratégico", realçou.
A resolução da questão dos subsídios pode servir como teste decisivo, disse Cui.
"Se as duas partes conseguirem resolver a questão através de consultas tecnológicas e políticas, não só resolvem as fricções económicas, como também reforçam a confiança política mútua", apontou. "Mas, se alguns políticos europeus quiserem mudar as tradições da política da UE em relação à China ou simplesmente mostrarem força, os laços entre a China e a UE poderão permanecer instáveis durante algum tempo".
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