Acordos de Abraão e isolamento do Irão na base de conflito, diz analista

O analista de política internacional Filipe Pathé Duarte defendeu hoje que na base do conflito entre Israel e o Hamas está a aproximação de Telavive aos Estados árabes e o isolamento do Irão, embora ainda existam questões em aberto.

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Lusa
09/10/2023 19:46 ‧ 09/10/2023 por Lusa

Mundo

Israel

Em declarações à agência Lusa, sobre o ataque de sábado do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), que espoletou a retaliação de Israel, Filipe Pathé Duarte atribuiu a crise atual a "um certo apertar das agendas políticas e mediáticas da causa palestiniana, pela simples razão da normalização de Israel com os Estados árabes".

"Há um relegar para um plano não primordial do conflito israelo-palestiniano e um alienar do apoio árabe, aparentemente fruto desta aproximação feliz entre Telavive e os Estados árabes", defendeu o também académico da NOVA School of Law de Portugal.

Para Pathé Duarte, depois de todas estas razões, "o ator que fica para trás, isolado, é o Irão".

"O móbil desta aproximação entre os Estados árabes e Israel é uma comunhão de interesses essencialmente veiculada pelo reconhecimento de Israel como inimigo/adversário, comum entre Israel e os Estados árabes. E, com isto, há um isolamento do Irão", acrescentou.

"Muitas vezes, este isolamento do Irão é contrabalançado pelo acicatar das tensões no conflito israelo-palestiniano para que, de novo, Israel volte a olhar e retaliar, e que, nessa retaliação, desproporcionada, procure outra vez a narrativa do opressor contra a vítima", referiu Pathé Duarte, destacando, paralelamente, a tentativa constante de recolocar o conflito israelo-palestiniano na agenda internacional com o objetivo concreto de quebrar os Acordos de Abraão.

Os Acordos de Abraão, patrocinados pelo então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foram assinados a 15 de setembro de 2020, entre Israel e os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, que se tornaram os primeiros países do Golfo Pérsico a normalizarem as relações com Telavive, passando a reconhecê-lo como uma nação.

Nas últimas semanas, Israel e Arábia Saudita vinham dando sinais de uma aproximação em curso, no sentido de uma normalização das suas relações diplomáticas.

Para o académico, o impacto económico e político do conflito entre Israel e o Hamas, tendo como pano de fundo o que está a ser causado pela invasão russa da Ucrânia, ainda é cedo para perceber, mas vai depender, acima de tudo, da resposta dos Estados árabes, em particular da Arábia Saudita.

"Tem de se perceber se, na resposta, há uma condenação veemente aos atos do Hamas, se há um silêncio ensurdecedor, se há uma condenação à resposta de Israel, se há um apoio às ações do Hamas. Toda essa resposta dos Estados árabes vai condicionar o impacto económico, financeiro e energético no resto do mundo. Mais a mais, um conflito leva sempre a uma quebra no investimento", justificou.

"[Os Estados árabes] não vão condenar imediatamente o Hamas porque isso pode causar algum problema interno no mundo árabe. Sabem que a ação do Hamas foi uma ação terrorista mas, ao mesmo tempo, têm esta aproximação com Israel, que é, no fundo, uma espécie de 'joint-venture' contra o Irão, que pretende ser potência regional e potência nuclear", acrescentou.

Instado pela Lusa sobre as razões do Hamas para avançar com um ataque a Israel, Pathé Duarte sublinhou que se trata de um ataque que foi preparado com antecedência, "pelo que há um lastro temporal", a par, "eventualmente", do "turbilhão político" vigente em Israel, "que poderá ter trazido alguma vulnerabilidade securitária, fator aproveitado pelo Hamas".

Por outro lado, lembrou, internamente, o Hamas "sofre um problema de legitimidade", em particular com o desafio feito pela Jihad Palestiniana e até pelo Lion's Den, (Covil dos Leões, um grupo com cerca de ano e meio, que está a discutir a legitimidade do Hamas), que defende que a atual direção é demasiada branda com Israel.

O grupo islâmico Hamas lançou no sábado um ataque surpresa contra o território israelita, sob o nome de operação "Tempestade al-Aqsa", com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados por terra, mar e ar.

Em resposta ao ataque surpresa, Israel bombardeou a partir do ar várias instalações do Hamas na Faixa de Gaza, numa operação que baptizou como "Espadas de Ferro".

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou que Israel está "em guerra" com o Hamas.

O mais recente balanço do Ministério da Saúde palestiniano registava pelo menos 560 mortos devido aos ataques aéreos israelitas em Gaza -- incluindo dezenas de menores e mulheres -- o que elevava para mais de 1.250 o total de mortes nos dois lados na sequência dos confrontos armados iniciados no sábado.

Leia Também: Israel: Hamas ameaça executar publicamente reféns civis israelitas

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