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Legislativas na Eslováquia sob signo da guerra na Ucrânia e da imigração

Guerra na Ucrânia, imigração e economia dominaram a campanha para as legislativas eslovacas do próximo sábado, que podem assinalar o regresso ao poder de Robert Fico, cujo partido pretende terminar com o apoio militar e político a Kyiv.

Legislativas na Eslováquia sob signo da guerra na Ucrânia e da imigração
Notícias ao Minuto

10:19 - 28/09/23 por Lusa

Mundo Eslováquia

Num país com forte polarização do espetro político, e numa demonstração da atual deriva política na Europa central e do leste, o Direção-social democracia (Smer-SSD), partido de origem social-democrata do ex-primeiro-ministro Robert Fico, 59 anos e formado em Direito, lidera as sondagens com cerca de 20% dos votos.

Caso vença o escrutínio e garanta um regresso ao poder após cinco anos de intervalo -- na sequência do colapso de uma frágil coligação anticorrupção no poder desde 2020 -- já se comprometeu a "cessar imediatamente qualquer entrega de ajuda militar à Ucrânia".

A sua vitória poderá implicar uma viragem da política externa deste país de 5,4 milhões de habitantes, membro da União Europeia e da NATO, e que forneceu uma ajuda substancial a Kyiv desde o início da invasão russa de fevereiro de 2022.

"A guerra na Ucrânia começou em 2014 quando os fascistas ucranianos mataram vítimas civis de nacionalidade russa", declarou Fico num recente vídeo, numa provável referência a acontecimentos na Casa dos sindicatos de Odessa, em 02 de maio desse ano.

Uma mensagem com eco, num país onde segundo uma sondagem do instituto Globsec apenas 40% da população considera a Rússia responsável pela guerra e com Fico a comprometer-se, caso regresse ao poder, em "terminar de imediato qualquer ajuda militar" à vizinha Ucrânia.

Face a uma hipotética aliança governamental de Fico com o Republika (extrema-direita) e o nacionalista Partido nacional eslovaco (SNS), o partido liberal Eslováquia Progressista (PS) e que surge na segunda posição, parece em condições de obter um resultado satisfatório e inclusive garantir a formação de uma coligação alternativa com a participação do partido social-Hlas-SD (Voz- social-democracia) de Peter Pellegrini, uma dissidência do Smer-SSD e alinhada nas posições da UE face à Ucrânia.

Neste contexto, a popularidade do Republika recuou em benefício parcial do SNS, que já participou em coligações governamentais com Robert Fico, mas estas duas formações têm de ultrapassar a barreira dos 5% para obter representação parlamentar.

A oposição acusa Robert Fico de pretender tornar a Eslováquia numa "segunda Hungria" caso forme uma coligação governamental, mas essa abordagem depende dos parceiros. Caso o Smer-SSD forme uma coligação com o Republika e o nacionalista SNS, essa perspetiva será provável.

Mas um Hlas-SD forte, e posicionado na terceira posição segundo as sondagens, poderá contrariar esta tendência, num escrutínio que analistas apresentam como cruciais para a orientação pró-ocidental e pró-europeia da Eslováquia.

A campanha eleitoral também decorreu num contexto de tensões em torno das importações de cereais ucranianos. Kyiv apresentou uma queixa contra a Eslováquia, Polónia e Hungria perante a Organização mundial do comércio (OMC) após estes três países vizinhos terem decidido prolongar unilateralmente, e em contradição com as diretivas de Bruxelas, o embargo sobre as importações de cereais ucranianos para proteger os seus agricultores.

A imigração foi outro tema central da campanha eleitoral, e quando diversos partidos, e a própria Presidente, Zuzana Caputová, têm acusado o Governo húngaro de intensificar o fluxo de imigrantes para a Eslováquia, com o objetivo de fornecer um novo impulso à campanha de Robert Fico.

Bratislava tem atribuído à Hungria um comportamento "laxista" face ao fenómeno migratório, e na segunda semana deste mês admitiu o envio até 500 soldados para reforçar as patrulhas policiais na fronteira comum.

O primeiro-ministro interino eslovaco, Lajos Ódor, aprovou diversas medidas para reduzir o fluxo de refugiados que entram na Eslováquia a partir da Hungria, para tentar contrariar o aumento do número de migrantes que tem sido registado ao longo da rota dos Balcãs em direção à Europa ocidental.

Numa outra comprovação da fragmentação política e social neste país da Europa central que até 1993 integrava a extinta Checoslováquia com a vizinha República Checa, as igrejas católicas e luterana, as mais poderosas da Eslováquia, tomaram posição há duas semanas sobre as legislativas.

Um recenseamento de 2021 indicou que três milhões de eslovacos (55,8%) declararam pertencer à Igreja católica e 287.000 à Igreja luterana. Na declaração publicada em 16 de setembro, que deveria ser lida nas missas de domingo, a Conferência episcopal eslovaca (KBS) apelou aos cristãos para não votarem em candidatos "que, segundo as palavras do Papa Francisco, apoiam a 'colonização ideológica', o que significa estarem de acordo com o aborto, a união civil, a eutanásia ou a ideologia de género, ou que propagam a desinformação, o ódio e a divisão".

Leia Também: Ucrânia e Eslováquia criam mecanismo para exportação de cereais

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