Este tópico foi abordado hoje numa reunião à porta fechada do Conselho de Segurança, na qual o gabinete humanitário da ONU confirmou que não pode trabalhar com as restrições estabelecidas pelo executivo liderado por Bashar al-Assad, adiantaram à agência Efe fontes diplomáticas.
Para os serviços humanitários da ONU, as condições são inaceitáveis por dois motivos: a proibição de comunicação com grupos classificados como terroristas por Damasco e a exigência de que as operações sejam supervisionadas pela Cruz Vermelha e pelo Crescente Vermelho sírio, acrescentaram as mesmas fontes.
As Nações Unidas defendem que devem poder falar com qualquer interveniente relevante naquela área, de forma a garantir a segurança dos abastecimentos e que a sua independência deve ser respeitada, sem estar subordinada a outras organizações, que neste caso nem sequer estão presentes no terreno.
"O que está claro para nós é que na Síria, ou em qualquer outro lugar, existem certos princípios humanitários que devem ser respeitados quando fornecemos ajuda humanitária", referiu hoje Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, quando questionado sobre o tema.
Dujarric destacou que a ONU continua em contacto com o governo sírio, que na semana passada informou a organização que decidiu permitir o uso da passagem de Bab al Hawa, entre a Turquia e áreas do noroeste sob controlo da oposição, depois do Conselho de Segurança da ONU não ter chegado a acordo para manter o mecanismo de ajuda humanitária que estava em vigor desde 2014.
Esta autorização do Conselho de Segurança permitia às Nações Unidas enviar ajuda por este canal sem a aprovação de Damasco, mas expirou depois da Rússia ter vetado uma proposta de prorrogação por nove meses e após o plano alternativo de Moscovo não ter recebido o apoio necessário.
A ONU planeia transferir nos próximos dias os suprimentos por outras duas passagens de fronteira que a Síria autorizou após os terremotos deste ano, mas por onde entrou até agora muita menos ajuda.
Também o chamado governo de salvação, que administra de facto grandes áreas da oposição no noroeste da Síria, criticou hoje a autorização de Damasco, apelando à comunidade internacional para "tomar medidas sérias para enviar assistência humanitária a quem precisa".
O ministro de Assuntos Humanitários daquele governo, Mohamed al Bashir, acusou o governo sírio de procurar "ganhos políticos à custa do sustento de milhões de pessoas deslocadas" nas províncias de Idlib e Aleppo, no noroeste.
De acordo com as Nações Unidas, mais de 4,1 milhões de pessoas precisam de ajuda nas áreas de oposição no noroeste do país.
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