Invasão da Ucrânia aumentou necessidade de cooperação militar UE-EUA
A necessidade de reforço da cooperação militar entre União Europeia e Estados Unidos perante a invasão militar em larga escala da Ucrânia pela Rússia, há 16 meses, foi hoje sublinhada num seminário organizado pelo Instituto de Defesa Nacional (IDN).
© Sergei Chuzavkov/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
Mundo Guerra na Ucrânia
Falando no seminário 'on-line' "The Russia-Ukraine War and European Defence", organizado pelo IDN, Gustav Gressel, que integra o Conselho Europeu sobre Relações Internacionais (ECFR) referiu-se aos desafios para a indústria da Defesa e persistentes "resistências burocráticas" no fornecimento de armamento à Ucrânia.
"Se a Ucrânia vencer, não haverá um exército russo com capacidade de responder. Mas se falhar, o que ainda é uma possibilidade, teremos um enorme e gigantesco problema de segurança com a Rússia nas nossas fronteiras e teremos de lidar com ele. Mas se a Ucrânia vencer ainda teremos o problema russo, a Rússia necessitará de anos para se rearmar", assinalou no painel moderado por Carlos Gaspar e Patrícia Daehnhardt, ambos conselheiros do IDN, com uma introdução prévia de Isabel Ferreira Nunes, diretora da instituição.
"Para além da China há outros países com uma agenda revisionista, como a Turquia ou a Hungria que podem reativar as suas ambições imperiais", prosseguiu Gressel. "Se não tiramos as lições desta guerra, e a necessidade de responder às necessidades de uma produção industrial de armamento em larga escala, estaremos em grandes dificuldades".
Num tempo definido de "crítico", o analista reafirmou a necessidade de produzir mais equipamento ou substituí-lo "para manter a Ucrânia na guerra", aludindo a diversos "disfuncionamentos" que necessitam ser corrigidos, para além das questões financeiras colocados por Estados menos abastados.
Ana Santos Pinto, investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) e professora universitária, aludiu à questão do reforço da relação União Europeia-NATO em termos de cooperação industrial e tecnológica, e numa referência à política de Defesa em Portugal sublinhou que a questão central reside em saber como despender o orçamento para esta área, na sua maioria ainda canalizado para as áreas do pessoal ou manutenção de infraestruturas.
"Não creio que seja possível uma modernização a curto prazo", afirmou numa referência à questão da autonomia estratégica da Europa, que na sua perspetiva deve passar pelo investimento em pesquisa e desenvolvimento, na tecnologia, e em cooperação. Sublinhou ainda a "grande diferença" entre os Estados-membros, indicando como exemplo o investimento da Alemanha nesta área beneficiar sobretudo a economia alemã, para além da necessidade de "incluir o Reino Unido nesta dinâmica, devido ao seu conhecimento".
Justyna Gotkowska, vice-diretora e chefe do Departamento de segurança e defesa no Centro de estudos orientais (OSW), um instituto com sede em Varsóvia, defendeu que perante "uma Rússia instável, imprevisível", o bloco europeu deve "preparar-se para os piores cenários", até pela possibilidade de "futuras agressões".
As perspetivas dos EUA sobre a defesa europeia foram abordadas por Elena Davlikanova, que integra o Centro de Análises Políticas europeias (CEPA) e graduada pela universidade estatal Sumi na Ucrânia.
Na sua intervenção, e ainda numa referência à questão da autonomia estratégica, reconheceu a dependência da Europa face aos EUA e a NATO, uma ajuda definida como essencial caso a Rússia "conseguisse os seus objetivos", e elegeu a Ucrânia como o "núcleo central da segurança na Europa", que deve implicar uma maior cooperação e "ultrapassando algumas contradições e ambiguidades europeias".
"É necessário apoiar a Ucrânia o tempo que seja necessário. Será um erro histórico se cimeira de Vilnius da NATO [prevista para 11 e 12 de julho] não emitir sinal sobre adesão ucraniana, também seria do interesse de toda a UE", defendeu.
Já Mónica Dias, vice-diretora do Instituto de estudos políticos da Universidade católica, optou por sustentar que a NATO permanece essencial "para garantir a paz e a capacidade militar na Europa".
Esta paz, sustentou, "deve ser garantida por uma forte Defesa e meios para a reconstrução da Ucrânia, e qualquer negociação de paz tem de incluir a Ucrânia e a recuperação de todos os seus territórios, incluindo a Crimeia", na perspetiva de um novo sistema internacional para o século XXI.
Numa contextualização final, e de novo em torno da autonomia estratégica da Europa, interrogou-se Carlos Gaspar sobre a quem devem recorrer os países do continente para os seus fornecimentos e modernização do seu armamento -- à própria Europa, aos Estados Unidos, Ásia, enumerou --, na perspetiva de "restaurar a capacidade de Defesa" da Europa e NATO.
Sobre a evolução da situação na Rússia após o motim de sábado passado do grupo paramilitar Wagner, admitiu o desconhecimento sobre "como lidar com uma liderança fraca do Kremlin", admitindo inclusive uma "nova escalada russa" no campo de batalha, e após a introdução de armas nucleares táticas na Bielorrússia.
Neste contexto, disse, a integração da Ucrânia na arquitetura de segurança europeia permite uma conclusão: "Será mais difícil incluir a Ucrânia primeiro na NATO e depois na UE, como sucedeu com diversos países do leste".
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