Aquele que era o 'braço direito' de Berlusconi no partido, Antonio Tajani, atual vice-primeiro-ministro e chefe da diplomacia italiana, anunciou para a próxima quinta-feira uma reunião do conselho nacional do Forza Italia para a eleição de um líder provisório até ao próximo congresso -- nunca antes de 2024.
No congresso será eleito o novo presidente de uma força política que pode não sobreviver ao desaparecimento daquele que foi desde sempre o seu rosto, Silvio Berlusconi.
Sendo o próprio Tajani, antigo comissário europeu, o grande candidato a assumir as rédeas do partido, a generalidade dos analistas e comentadores políticos em Itália não têm grandes dúvidas de que é uma missão praticamente impossível substituir «O Cavaleiro», como era apelidado Berlusconi, que fundou o Forza Italia em 1994, quando se lançou na política.
À frente do partido, Berlusconi foi primeiro-ministro em quatro governos (1994-95, 2001-2016 e 2008-2011).
A mesma ideia tem a generalidade da população italiana -- de acordo com uma sondagem realizada já após a sua morte, a 12 de junho - com uma clara maioria dos inquiridos a considerar que Berlusconi é "insubstituível".
Entre os que pensam ser possível alguém herdar o seu legado político à direita, o nome mais apontado, à frente de Tajani (12%), é o de Giorgia Meloni (14%), a primeira mulher a chefiar um governo em Itália, e que muitos analistas antecipam que pode ser a grande beneficiada com a 'orfandade' do Forza Italia.
Ainda antes do desaparecimento de Berlusconi, o Forza Italia já estava em óbvio declínio, tendo passado de perto de 30% dos votos nas legislativas de 2001 para apenas 8% nas eleições do ano passado, o que o tornam o elo mais fraco na atual coligação governamental, já que, nas eleições de setembro do ano passado, os Irmãos de Itália, liderados por Meloni, obtiveram 26%, e a Liga (extrema-direita, de Matteo Salvini) alcançou 9%, mesmo em queda face a anteriores resultados.
Ainda assim, os 62 membros do Forza Italia eleitos no ano passado -- 44 para a Câmara dos Deputados (câmara baixa) e 18 para o Senado (câmara alta) -- são indispensáveis para a atual coligação no governo, pelo que o futuro do partido de Berlusconi após a sua morte é particularmente importante para todo o espetro político italiano do centro-direita à extrema-direita.
A grande incógnita atualmente é que caminho seguirá o eleitorado fiel ao «Cavaleiro», que nunca designou um sucessor político.
O Forza Italia vai ter o seu grande teste de fogo dentro de sensivelmente um ano, nas eleições europeias agendadas para junho de 2024.
Na altura, já terá novo líder eleito, e, neste momento, Tajani é o grande favorito, apenas 'beliscado' pela ténue possibilidade de alguém da família Berlusconi decidir avançar.
A filha mais velha, Marina Berlusconi, que gere há muito o império económico de milhares de milhões criado pelo pai, a Fininvest, seria a herdeira política natural, mas nunca revelou qualquer interesse em enveredar pela vida política.
Tajani, figura respeitada em Bruxelas, parece assim ter o caminho aberto para ser o novo 'número um' do Forza Italia, mas numa conferência de imprensa na semana passada o próprio admitiu que Berlusconi será "sempre" o líder, cujo nome revelou que permanecerá no símbolo do partido.
Neste quadro, antecipam diversos analistas políticos italianos, grande parte dos membros e dos eleitores do Forza Italia poderá ter a tentação de se transferir para os 'Fratelli d'Italia' de Meloni, em estado de graça após oito meses no poder, e que poderá ser assim a grande beneficiada com o vazio criado pela morte de Berlusconi, depois de em 2022 já ter conquistado a este parte do seu eleitorado.
Para tal, Meloni poderá ter, no entanto, de travar batalhas internas dentro do seu partido contra a fação mais apegada às raízes do Movimento Social Italiano -- partido de inspiração neofascista antecessor dos Irmãos de Itália -, no sentido de o levar um pouco mais para o centro-direita e assim cativar o eleitorado mais moderado do Forza Italia.
A sobrevivência do Forza Italia começará a decidir-se nas eleições europeias de 2024, e o partido aposta já tudo numa grande campanha a ter início a 29 de setembro próximo, a data em que Berlusconi cumpriria 87 anos. O objetivo é que o pleito não seja também o seu último fôlego.
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