A data comemorativa do Dia Internacional contra a Islamofobia - 15 de março - coincide com o quarto aniversário do massacre de Christchurch, na Nova Zelândia, onde 51 muçulmanos neozelandeses foram assassinados por um militante de extrema-direita.
De acordo com a ONU, islamofobia é um medo, preconceito e ódio aos muçulmanos que leva à provocação, hostilidade e intolerância através de ameaças, assédio, abuso, incitação e intimidação tanto 'online', quanto 'offline'.
O dia internacional foi decretado pela Assembleia Geral da ONU no ano passado, após um relatório da organização concluir que a islamofobia atingiu "proporções epidémicas".
O relatório da ONU, que teve por base questionários europeus realizados em 2018 e 2019, mostrou que quase quatro em cada dez pessoas tinham opiniões desfavoráveis sobre os muçulmanos. Já em 2017, 30% dos norte-americanos viam os muçulmanos "de uma forma negativa", acrescentou o relatório.
Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, nos EUA, e outros atos de terrorismo supostamente realizados por grupos terroristas islâmicos, as suspeitas e ataques contra muçulmanos aumentaram continuamente.
A efeméride foi assinalada na Assembleia Geral da ONU na sexta-feira passada, com um evento de alto nível no qual o secretário-geral, António Guterres, criticou a discriminação estrutural e institucional anti-muçulmana enraizada nalgumas sociedades e "reforçada vergonhosamente pela retórica e políticas de alguns líderes".
Guterres observou que os quase dois mil milhões de muçulmanos em todo o mundo enfrentam muitas vezes intolerância e preconceito apenas devido à sua fé, defendendo a necessidade de se "erradicar o veneno da islamofobia".
"Esse ódio", referiu Guterres, manifesta-se "na exclusão socioeconómica, nas políticas de imigração discriminatórias e na vigilância", entre outras medidas.
"Revela-se na estigmatização generalizada das comunidades muçulmanas. E é reforçado por representações tendenciosas da imprensa e -- vergonhosamente -- pela retórica e políticas anti-muçulmanas de alguns líderes políticos", disse.
No mesmo evento, a representante permanente dos EUA junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, aproveitou para condenar as violações dos direitos humanos contra os muçulmanos na Birmânia (ex-Myanmar) e na China.
Nos Estados Unidos (EUA), o dia internacional será liderado pelo Conselho de Relações Americano-Islâmicas (CAIR, sigla em inglês), o maior grupo de defesa e liberdades civis muçulmanas do país, que anunciou a divulgação de uma declaração conjunta que expressará solidariedade na luta contra a islamofobia global.
De acordo com uma investigação do CAIR divulgada no ano passado, entre 2017 e 2019 mais de 105 milhões de dólares (98 milhões de euros) foram investidos por em 26 grupos anti-muçulmanos para espalhar desinformação e teorias da conspiração sobre os muçulmanos e o Islão.
Além disso, os relatos de 'bullying' escolar recolhidos pelo CAIR em vários Estados norte-americanos demonstram que os alunos continuam a enfrentar abusos físicos e verbais por serem muçulmanos e não se sentem à vontade para expressar a sua identidade muçulmana ou se envolverem em discussões em sala de aula sobre os muçulmanos e o Islão.
"A Islamofobia continua a operar ao nosso redor, institucional, social e politicamente. Comunidades muçulmanas nos Estados Unidos, Índia, Israel e outros lugares trabalham juntas para combater a discriminação racial, étnica e religiosa, enquanto a islamofobia persiste", defendeu o CAIR.
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